Neste blog estão reunidos alguns poemas e contos em que faço uso da Prosopopeia (Animação de Sentimentos e Seres Inanimados). Alguns destes poemas foram editados no meu livro "O ACENDEDOR DE CORAÇÕES", editado pela Corpos Editora - Portugal. Em alguns contos, também faço uso de figuras de linguagem para identificar os personagens, alguns reais,outros imaginários que povoam os meus pensamentos.
segunda-feira, 19 de abril de 2010
Vida que Segue
Um coração abandonado,
ainda muito perturbado,
embarcou numa casquinha de noz
e no mar foi lançado.
Não sabia que fora enganado
e assim, desamparado,
com o coração muito magoado,
decidiu que precisava
partir para outra viagem,
ao interior de si mesmo.
Navegou por muitos mares,
encontrou muitos adversários
e com eles, alguns falsários.
Mas isso tudo não o aniquilou,
pelo contrário,
o deixou ainda mais animado.
Sempre que partia
a navegar além dos mares,
encontrava tempo fechado,
com muito nevoeiro
encobrindo o seu veleiro.
Isso tudo não era motivo
para que o fizesse desistir,
de seguir sempre em frente
e novos horizontes descobrir.
Mesmo fragilizado,
naquele barquinho improvisado,
sentiu-se reconfortado
com a decisão que tomara.
As ondas do mar se erguiam
com tanta força,
que faziam a casquinha quase virar
e o coração ainda mais desesperado,
pensava no mar se lançar.
Depois de algum tempo
o mar pareceu se acalmar
e tudo voltou ao normal.
A casquinha no mar flutuou
e o coração serenou.
Depois da tempestade,
veio a calmaria
e o coração ainda receoso
percebeu que estivera á deriva
no mar revolto
e ainda envolto
em seus pensamentos,
na areia da praia
a casquinha atracou.
Desembarcou todo encharcado
e molhado até o pescoço.
Mas o sol que o aquecia
o deixou mais animado.
Sentiu a brisa do mar
a soprar encabulada.
Não se importou
em tirar as roupas molhadas
e seguir de novo
por uma nova estrada.
Só que agora,
muito mais reconfortado.
Com o coração cheio de esperança,
sem o peso das lembranças,
sentiu-se revigorado.
E percebeu...
Que a vida segue...
Débora Benvenuti
domingo, 11 de abril de 2010
Pappilon
Pappilon
Há muitos e muitos anos,existiu um marinheiro chamado Pappilon. Ele navegou durante anos por mares turbulentos, às vezes entremeados por calmarias e foi durante esse período que ele acreditou ter chegado a um porto seguro e fez ali a sua morada. Sopraram os ventos, veio a tempestade e ele firme, construiu sua família. Teve dois filhos, a quem ele chamou Sarah e Noah. Dedicou-lhes todo o amor que um pai pode dedicar a seus filhos e cada vez que pensava ter passado a tempestade, sopravam novos ventos que varriam para longe toda a esperança de felicidade. Até que um dia, ele resolveu se lançar ao mar novamente, a procura de outros portos onde pudesse se abrigar dos ventos fortes, que ameaçavam destroçar sua embarcação. E foi durante essa aventura, que ele chegou a uma ilha deserta,onde pensou que não existisse ninguém. Percebeu então, que na areia da praia o Amor havia deixado pegadas profundas, em formato de coração. Curioso, decidiu seguir essas pegadas para ver se a ilha era tão deserta assim. Caminhou durante muito tempo e acabou chegando a uma cabana onde percebeu que havia luz acesa. Encontrou ali uma mulher muito só, que durante muito tempo se distraia fazendo caixinhas muito coloridas e de vários formatos, onde guardava todos os sonhos que acalentava.Curioso,não resistiu à tentação e foi abrindo caixinha por caixinha, para ver o que havia dentro delas. Em cada caixinha que abria, foi descobrindo que haviam sido guardados ali, Amor,Esperança,Carinho, Afeto e muitos outros sentimentos,que ele, com o tempo,foi conhecendo. Um dia, ele abriu a última caixinha que continha um sentimento que ele desconhecia:
“ A Liberdade.”
E por desconhecer o significado dessa palavra, se aventurou novamente ao mar. Tentou durante muito tempo descobrir o que isso significava e quanto mais procurava, menos entendia. Era algo diferente de tudo que ele já havia experimentado. E assim, ele continua até hoje, buscando em cada porto um lugar seguro para ancorar a sua curiosidade.
Depois que o marinheiro partiu em busca de novas aventuras, a mulher fechou novamente cada uma das caixinhas e as escondeu em um lugar tão seguro, mas tão seguro, para que ninguém mais pudesse abri-las. E a partir desse dia, as luzes da cabana se apagaram e as pegadas na praia sumiram para sempre.
Débora Benvenuti
Coração Egípcio
Um Coração adormeceu
e quando acordou ,
percebeu
que estava num lugar estranho,
que não era o seu.
Atravessara o oceano
e todo o Mar Egeu.
Se encontrava agora,
nas areias escaldantes,
de uma terra distante,
cheia de mistérios,
onde o que havia,
era a magia,
que o envolvia.
Que lugar estranho,
observou o coração,
no momento em que acordou.
Estava num museu,
ou era tudo um sonho seu?
Ao seu lado percebeu,
que havia um sarcófago
e pulsando dentro dele,
um coração que lhe falava
palavras de amor,
o que muito o surpreendeu.
Parecia que o conhecia
e ele mesmo sentiu,
uma forte emoção,
que fez bater mais forte
o seu coração.
Aquela voz
vinha de muito longe
e o coração reconheceu,
como sendo de um Amor
que o tempo não esqueceu.
Sentiu uma grande euforia
que o envolvia
e o fazia transportar
para um mundo que ele conhecia,
pois quem lhe falava de Amor,
era Tutankamon.
Então o Coração entendeu,
que o seu coração era de Nefertite,
e ele então se aquietou
e se deixou conduzir
por aqueles corredores
que tantas vezes percorrera
e nos braços do seu Amor,
novamente adormeceu.
Viveu novamente as emoções
que já vivera tantas vezes,
ao lado desse Amor,
que novamente era Seu.
Débora Benvenuti
sábado, 10 de abril de 2010
A Amizade e o Sorriso
A Amizade
queria muito conquistar
o Sorriso,
mas não sabia o que fazer,
para dele se aproximar
e um sorriso ganhar.
Pensou em várias maneiras,
sem se decidir
por onde começar.
Depois de muito pensar,
resolveu que do Sorriso
precisava se aproximar.
Como era muito espontânea
e o Sorriso muito encabulado,
achou que poderia conquistá-lo
falando coisas engraçadas.
Só não sabia se com isso,
conquistaria o Sorriso,
que se mantinha em um canto,
muito quieto,
quase calado.
A Amizade se aproximou
com cautela,
pisando suave, delicado.
Rodopiou,
fez molecagem
e o Sorriso,
lá num canto, calado.
Parecia que não havia nada
que fizesse o Sorriso
desfazer a cara amarrada.
Então a Amizade se aproximou,
tentou, tentou
e enfim o sorriso
naquele rosto calado,
desabrochou.
Foi quando a Amizade percebeu
esse sentimento chamado
Generosidade,
que nasce de um momento
chamado Sinceridade,
que é o que faz o Sorriso
Desabrochar, sem maldade....
Débora Benvenuti
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