MEU LIVRO - EDITORA CORPOS - PORTUGAL

quarta-feira, 21 de abril de 2010



A Imaginação e o Eco





A Imaginação andava apreensiva.

Há muito tempo não conseguia imaginar.

Já se sentira assim um dia

e quando isso acontecia,

de nada adiantava chorar.

Seus pensamentos se confundiam

e ela não conseguia mais pensar.

Então saía a caminhar...

Seus passos a conduziam,

sempre ao mesmo lugar:

- O alto de um penhasco

onde podia a tudo observar,

até que pudesse se acalmar.

Parou um instante,

ouviu o Silêncio,

falou ao Vento,

sentou no rochedo

e começou a soluçar.

Pensou que nunca mais voltaria

a se lançar no espaço.

Suas asas estavam gastas

e a impediam de voar.

Então gritou bem alto:

- Eu quero voar...

Eu quero voar...

E o som retumbava,

trazido pelo Eco,

e ela ouvia o que ele dizia

e mal conseguia acreditar:

- Eu quero voar soava tão nítido,

que algo dentro dela

começou a despertar.

Essa voz que ela ouvia

a incentivava a voar.

Então se lançou no espaço,

abriu as suas asas

e percebeu que ainda sabia voar...



Débora Benvenuti


terça-feira, 20 de abril de 2010

A Fonte dos Desejos




A Fonte dos Desejos

 





Existia uma Fonte encantada
habitada por uma fada,
que satisfazia a todos os desejos
de quem nela acreditasse.
Se alguém dela se aproximasse,
nunca mais sentiria solidão,
viveria eternamente
na mais completa harmonia,
não mais sofreria desilusão
e amaria com todo o coração,
mas para isso precisaria
desvendar o seu segredo.
Um coração que por ali passava,
ouvindo o murmúrio da Fonte,
se aproximou cauteloso,
mas enlevado por tão belo canto
e tão suave melodia,
percebeu que podia
à Fonte fazer um pedido,
mas a Fonte foi logo avisando,
que só atenderia,
se o pedido fosse feito
por alguém que não possuísse
nenhum defeito
e que descobrisse um sonho perfeito,
desse a esse sonho um nome,
que fosse maior que o oceano,
mais forte que o vento
e mais perfeito que a flor mais perfeita.
O coração teria então
um momento para reflexão,
mas teria que acertar
senão perderia toda a razão.
E com toda a convicção,
eis a resposta do coração,
à charada que a fonte fizera então:
- O maior de todos os sonhos é o AMOR,
sem ele não haveria a emoção
que trago no coração,
e com esta resposta,
fez-se um clarão
que iluminou a escuridão,
e a fonte deu razão
à resposta do coração,
deu a ele a condição
de existir para sempre
em todos os corações
e foi então,
que o Amor descobriu,
que até mesmo entre as flores
havia um Amor - Perfeito...

 


Débora Benvenuti








O Amor e o Coração




 


Um Coração que queria muito amar,

percorreu muitos caminhos

até o Amor encontrar.

Não sabia o que sentia

quando viu o Amor se aproximar.

Era um sentimento tão intenso,

que o Coração não soube explicar.

Sensações tão diferentes

que ele chegou a experimentar,

e perto do Amor

ficou sem saber o que pensar.

O Amor percebeu o Coração a pulsar,

tão nitidamente

que até dava para escutar.

Essa sensação que o Coração sentia

o fazia hesitar,

porque tinha muito medo

de pelo Amor se apaixonar.

Sabia que não podia

esse sentimento demonstrar,

porque para esse Amor

o Coração não saberia o que falar

e nem podia com ele sonhar.

Era um sonho proibido,

e isso o Coração não poderia agüentar.

Por mais que quisesse

por esse Amor tudo arriscar,

sabia que algum dia

o Amor iria para nunca mais voltar.

Mas à que sensação maravilhosa

o Coração se entregou.

Sonhou sonhos cor de rosa,

desejou amar o Amor,

mas percebeu cheio de dor,

que não podia a esse sonho se entregar.

Então fechou as janelinhas

para o Amor não notar,

que o Coração envelhecera

de tanto esperar,

por esse Amor chegar.



Débora Benvenuti




O Acendedor de Corações



O Acendedor de Corações

 


Era uma noite gelada e fria,

em que o sereno da

madrugada caia.

O vento castigava a quem

não se abrigava da noite

que se prolongava,

como uma ave de rapina,

estendendo as suas garras,

até alcançar o raiar do dia.

Nessa noite o Amor

se compadeceu,

de todos aqueles

que não tinham um amor,

para chamar de seu.

Acendeu um candeeiro

e saiu na noite escura,

como um curandeiro,

procurando um coração,

que precisasse de um pouco

de paixão,

para dar vazão à emoção

que fazia eco em seu coração.

Andou por muito tempo

e foi acendendo todos os corações,

em que a chama da paixão,

o vento do tempo apagara.

Por onde andou,

só encontrou as cinzas

que a paixão deixara,

nesses corações que nunca mais

amaram e já haviam esquecido

o quanto o Amor os havia aquecido.

Acendeu tantos corações,

até que o fogo do seu candeeiro apagou

e com o vento como açoite,

voltou para o seu leito

e dormiu como nunca antes

havia feito,

nos lençóis amassados e desfeitos...

 

Débora Benvenuti




A Magia do Lago



A Magia do Lago



Uma bela libélula,

depois de muito voar

por jardins e bosques floridos,

pousou no tronco de uma árvore para descansar.

Anoiteceu e os raios do luar iluminaram

um lago de águas límpidas e tranqüilas.

A libélula aproximou-se para observar

e viu o seu reflexo nas águas refletidos.

Surpreendeu-se ao perceber que não era

igual às outras libélulas que conhecia.

Havia algo de diferente e belo.

Ela era simplesmente uma mulher,

com asas tão transparentes que

somente os raios do luar passavam

por entre elas e seu reflexo brilhava no lago.

Por um momento,

ficou perplexa com sua imagem,

então entendeu por que

suas amigas sempre faziam

comentários quando a viam voar

livremente pelos ares.

Havia algo que ela queria entender:

- Por que tinha a forma humana e

possuía asas?

Desejou ser apenas uma mulher,

mas como se desfazer das asas,

que a impediam de ser como as outras

mulheres que conhecia?

Olhou novamente o seu reflexo no lago

e percebeu que a imagem ali refletida

dançava aos seus olhos e os raios de luar

escreviam palavras que emergiam do lago,

conforme o movimento das águas.

Começou a recolher as palavras,

a medida que elas surgiam e as

colocava na relva ao seu lado.

Percebeu então que uma mensagem

ali havia se formado:

" Se quiseres adquirir a forma humana,

perderás as tuas asas e jamais poderás

voar na tua imaginação"

No entanto, se quiseres manter esse dom,

terás que cumprir três coisas:

- Amar alguém com todo o teu coração;

- Fazer felizes todas as pessoas ao teu redor;

- Ser sábia em todas as tuas decisões.

Depois disso, as palavras desapareceram

e a libélula adormeceu profundamente

e só acordou com os raios de sol

aquecendo a sua pele.

Lembrou-se da noite anterior e foi

novamente olhar-se no lago.

Nada viu de diferente nela.

Apenas as suas asas haviam desaparecido.

Olhou ao seu redor e sentiu uma sensação

muito agradável tomando conta

de todo o seu ser.

Sentiu vontade de voar,

mas lembrou-se que não possuía mais asas.

Então percebeu que podia caminhar.

Sentiu-se livre...

Livre para voar na sua imaginação...



Débora Benvenuti



A Eternidade, o Amor e a Saudade


A Saudade e o Amor
diante da Eternidade foram se encontrar,
para explicar o que andavam fazendo
e cada um ao seu modo
foram se expressando:
_ A Saudade disse que havia deixado
muitos corações despedaçados,
enquando o Amor tentava compor
os caquinhos estilhaçados,
que a Saudade ia deixando pelo caminho.
Quanto mais longe de um coração
se encontrava,
mais a Saudade ia deixando a sua mágoa
e o Coração mais apertado ficava,
cada vez que a Saudade passava.
De tanto consolar o Coração,
o Amor acabou também ficando apaixonado,
pelo mesmo coração que a Saudade
havia deixado.
A Saudade, sabendo então que o Coração
estava de novo apaixonado,
resolveu voltar e questionar o seu lugar.
O Amor, sabendo de todos os males
que a Saudade havia deixado,
nesse coração tão amargurado,
jutou diante da Eternidade,
que jamais havia deixado
alguém tão só e desesperado.
A Eternidade,
conhecedora de toda a enfermidade
que a Saudade causava,
disse que o Amor era superior
a toda essa crueldade,
causado pela Saudade.
Resolveu que a partir desse momento,
cada vez que um coração se sentisse
aprisionado pela Saudade,
teria o direito de escolher o Amor
que mais afeto despertasse
e deixar a Saudade seguir
a mesma estrada que havia trilhado,
quando deixou o Coração
já tão gasto e humilhado.
Daquele dia em diante o Amor
e a Saudade nunca mais foram vistos
habitando um mesmo coração.
Quando a Saudade passava,
o Amor se fingia de cego,
para não ver a Saudade,
junto da Eternidade,
fazer juras de Amor
e enganar o Coração,
que mesmo apaixonado,
ainda pensava na Saudade...

Débora Benvenuti






segunda-feira, 19 de abril de 2010






Vida que Segue





Um coração abandonado,

ainda muito perturbado,

embarcou numa casquinha de noz

e no mar foi lançado.

Não sabia que fora enganado

e assim, desamparado,

com o coração muito magoado,

decidiu que precisava

partir para outra viagem,

ao interior de si mesmo.

Navegou por muitos mares,

encontrou muitos adversários

e com eles, alguns falsários.

Mas isso tudo não o aniquilou,

pelo contrário,

o deixou ainda mais animado.

Sempre que partia

a navegar além dos mares,

encontrava tempo fechado,

com muito nevoeiro

encobrindo o seu veleiro.

Isso tudo não era motivo

para que o fizesse desistir,

de seguir sempre em frente

e novos horizontes descobrir.

Mesmo fragilizado,

naquele barquinho improvisado,

sentiu-se reconfortado

com a decisão que tomara.

As ondas do mar se erguiam

com tanta força,

que faziam a casquinha quase virar

e o coração ainda mais desesperado,

pensava no mar se lançar.

Depois de algum tempo

o mar pareceu se acalmar

e tudo voltou ao normal.

A casquinha no mar flutuou

e o coração serenou.

Depois da tempestade,

veio a calmaria

e o coração ainda receoso

percebeu que estivera á deriva

no mar revolto

e ainda envolto

em seus pensamentos,

na areia da praia

a casquinha atracou.

Desembarcou todo encharcado

e molhado até o pescoço.

Mas o sol que o aquecia

o deixou mais animado.

Sentiu a brisa do mar

a soprar encabulada.

Não se importou

em tirar as roupas molhadas

e seguir de novo

por uma nova estrada.

Só que agora,

muito mais reconfortado.

Com o coração cheio de esperança,

sem o peso das lembranças,

sentiu-se revigorado.

E percebeu...

Que a vida segue...



Débora Benvenuti

domingo, 11 de abril de 2010

Pappilon


Pappilon



Há muitos e muitos anos,existiu um marinheiro chamado Pappilon. Ele navegou durante anos por mares turbulentos, às vezes entremeados por calmarias e foi durante esse período que ele acreditou ter chegado a um porto seguro e fez ali a sua morada. Sopraram os ventos, veio a tempestade e ele firme, construiu sua família. Teve dois filhos, a quem ele chamou Sarah e Noah. Dedicou-lhes todo o amor que um pai pode dedicar a seus filhos e cada vez que pensava ter passado a tempestade, sopravam novos ventos que varriam para longe toda a esperança de felicidade. Até que um dia, ele resolveu se lançar ao mar novamente, a procura de outros portos onde pudesse se abrigar dos ventos fortes, que ameaçavam destroçar sua embarcação. E foi durante essa aventura, que ele chegou a uma ilha deserta,onde pensou que não existisse ninguém. Percebeu então, que na areia da praia o Amor havia deixado pegadas profundas, em formato de coração. Curioso, decidiu seguir essas pegadas para ver se a ilha era tão deserta assim. Caminhou durante muito tempo e acabou chegando a uma cabana onde percebeu que havia luz acesa. Encontrou ali uma mulher muito só, que durante muito tempo se distraia fazendo caixinhas muito coloridas e de vários formatos, onde guardava todos os sonhos que acalentava.Curioso,não resistiu à tentação e foi abrindo caixinha por caixinha, para ver o que havia dentro delas. Em cada caixinha que abria, foi descobrindo que haviam sido guardados ali, Amor,Esperança,Carinho, Afeto e muitos outros sentimentos,que ele, com o tempo,foi conhecendo. Um dia, ele abriu a última caixinha que continha um sentimento que ele desconhecia:

“ A Liberdade.”

E por desconhecer o significado dessa palavra, se aventurou novamente ao mar. Tentou durante muito tempo descobrir o que isso significava e quanto mais procurava, menos entendia. Era algo diferente de tudo que ele já havia experimentado. E assim, ele continua até hoje, buscando em cada porto um lugar seguro para ancorar a sua curiosidade.

Depois que o marinheiro partiu em busca de novas aventuras, a mulher fechou novamente cada uma das caixinhas e as escondeu em um lugar tão seguro, mas tão seguro, para que ninguém mais pudesse abri-las. E a partir desse dia, as luzes da cabana se apagaram e as pegadas na praia sumiram para sempre.



Débora Benvenuti