MEU LIVRO - EDITORA CORPOS - PORTUGAL

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Prateleira de Saudades







 


Prateleira de Saudades



 

Em cada prateleira

guardo bem fechadas,

caixinhas amarradas

com fitas amareladas.

Fotos antigas,

pelo tempo desbotadas.

Pedacinhos de papéis,

onde escrevia versos

e de tão ingênuos,

os guardei e ainda os tenho,

para sempre te lembrar.

Em cada prateleira,

uma caixinha com fitas amarradas.

São pedacinhos de um passado

que jamais foi superado.

Ainda as vejo,

quando sinto renascer

o desejo de te ver

e relembrar a chama do desejo

que vi no teu olhar

e que aos pouco se apagou

na saudade que você deixou.

Na prateleira,

as caixinhas são surpresas.

Cada vez que as vejo,

de dentro delas ainda surgem,

flores do campo perfumadas,

que ficaram amassadas,

de tanto ficarem guardadas,

na prateleira de Saudades.



Débora Benvenuti

 
 

terça-feira, 27 de abril de 2010

A Imaginação e o Silêncio

 


 

 

A Imaginação precisava encontrar

 o Silêncio e com ele conversar.

 Há muito tempo se sentia desanimada

 e não mais conseguia imaginar.

 Seus pensamentos eram confusos

 e as idéias não mais a ajudavam

 a se encontrar.

 Decidida a descobrir

 o que a fazia assim agir,

 saiu na madrugada a procura

 do Silêncio e o encontrou sozinho,

 no alto de um penhasco.

 O Silêncio observou a Imaginação

 se aproximar

 e logo pensou no que ela

 iria falar.

 Sabia tudo o que acontecia

 com a amiga,

 mas como era muito observador,

 não queria aquele momento transpor.

 Ficou em silêncio,

 como era do seu costume.

 Sabia o quanto a Imaginação

 estava cansada.

 Suas asas estavam quebradas

 e ela não conseguia mais voar.

 A Imaginação se aproximou

 do Silêncio e se pôs a falar:

 - Amigo Silêncio, podes me escutar?

 Ao que o Silêncio concordou,

 balançando a cabeça, docemente.

 - Estou a escutar...

 A Imaginação então contou ao Silêncio,

 o que a impedia de voar.

 Da última vez que sonhara,

 voara tão alto,

 que esquecera das suas asas cuidar.

 Quando percebera

 que o sonho acabara,

 do alto daquele penhasco despencara,

 e suas asas quebrara.

 Assim, não mais podia voar,

 como tantas vezes fizera.

 O Silêncio nada podia fazer,

 para consolar a Imaginação.

 Sentia uma enorme vontade

 de falar,

 mas não sabia como

 se expressar.

 Então, estendeu os braços

 e envolveu a Imaginação,

 com tanto carinho,

 que ela se pôs a soluçar.

 O Silêncio cuidou dos ferimentos

 da Imaginação,

 até que ela pudesse voar.

 E numa manhã ensolarada,

 a Imaginação se sentiu

 mais animada,

 se sentiu reconfortada.

 Do alto do penhasco,

 se despediu do Silêncio,

 bateu as asas com cuidado

 e percebeu que estava curada.

 Agradeceu ao Silêncio

 e se lançou do nada,

 na imensidão do espaço

 que a esperava...

  

Débora Benvenuti


sábado, 24 de abril de 2010

A Nuvem e o Amor






A Nuvem e o Amor




 

Uma Nuvem vivia no céu a sonhar.

Queria muito um amor encontrar,

mas não sabia como fazer,

para chamar a atenção do Amor

e fazer ele por ela se apaixonar.

Sentiu a presença do Vento

e lembrou-se que poderia com ele contar,

para o seu sonho realizar.

- Amigo Vento,

disse a nuvem a sonhar,

preciso muito que me ajudes

a um sonho realizar:

Quero muito um Amor encontrar.

O Vento escutou aquele lamento

e resolveu a Nuvem ajudar.

Soprou forte, por um momento,

até ver a Nuvem em um coração

se transformar.

A Nuvem ficou tão contente,

suspirou profundamente,

quando viu o Amor para ela olhar.

Sentiu imediatamente,

que poderia pelo Amor se apaixonar.

E ele aquela linda Nuvem se pôs a admirar.

A Nuvem preferiu nada falar,

sobre a sua condição momentânea.

Amou o Amor com todo o ardor

que havia em seu coração.

E o Amor amou aquela Nuvem,

como jamais julgara amar.

Foram momentos tão felizes,

que o Amor se sentiu nas nuvens.

Adormeceu aconchegado

aquele colo tão macio e aveludado .

Quando acordou, percebeu que a Nuvem

não estava mais ao seu lado.

A Nuvem chorava amargurada,

porque pensou que o Amor a tivesse

abandonado,

mas o Vento que por ali passava,

já a havia transformado

e muito longe dali a transportara.

O Amor a procurou por todo o lado,

mas nunca mais encontrou a Nuvem

por quem havia se apaixonado...

E a Nuvem até hoje,

continua no céu vagando,

em noites enluaradas,

procurando por esse Amor

que a deixou tão arrasada...


 

Débora Benvenuti





Nota: Veja o poema em vídeo .

O Amor e a Noite






O Amor e a Noite


 
 
O Amor estava apaixonado pela Noite.

Quando ela chegava e despia o seu manto,

deixava o Amor mudo de espanto,

ao ver aquela mulher misteriosa,

que tanta beleza irradiava.

Leva-a para o seu leito

e a contemplava com tanto carinho,

que quase a sufocava.

Já não sabia mais o que fazer,

para demonstrar o quanto a amava.

Mesmo assim,

a noite todos os dias ia embora

e deixava o Amor muito amargurado.

Os dois se amavam,

disso ninguém duvidava.

Era um amor tão belo

como nunca houvera outro igual.

O Amor se entregava a essa paixão

que consumia o seu coração.

Quão bela era a Noite,

suspirava o Amor,

quando a Noite chegava e o abraçava,

tonta de emoção.

Falavam de amor,

faziam planos,

dormiam abraçados,

caminhavam lado a lado

e o Amor ficava cada dia

mais apaixonado.

Mas a tristeza não o abandonava.

Quando acordava e não mais

encontrava a Noite ao seu lado,

soluçava amargurado

e sem saber o que fazer,

resolveu permanecer acordado,

para descobrir o que acontecia

com a Noite,

quando o dia amanhecia.

E foi então que descobriu

o mistério que a envolvia.

No travesseiro ao seu lado,

apenas uma estrela solitária,

caída do manto da noite,

quando ela na madrugada

se transformara.



Débora Benvenuti






sexta-feira, 23 de abril de 2010

A Sabedoria, a Dignidade e a Esperteza






A Sabedoria, a Dignidade e a Esperteza





Já era tarde quando a Sabedoria encerrou as atividades do seu dia. Preparava-se para dormir,quando ouviu que batiam à porta. Vestiu o seu manto e foi atender ao visitante, que parecia nem sentir o frio que fazia àquela hora. Deparou-se então com duas criaturas enigmáticas. A Sabedoria se perguntou o que poderiam querer, depois do anoitecer. A Esperteza foi a primeira a se manifestar. Queria questionar algo que fez a Dignidade estremecer. Por sua natureza, a Esperteza vivia a enganar a todos, enquanto a Dignidade se mostrava preocupada,pois sabia que um dia a Esperteza podia se enganar,cometer um erro fatal e nunca mais se modificar.Essa era a questão,que as duas levaram para a Sabedoria avaliar. A Dignidade tinha os seus princípios,achava que nunca cometera nenhum delito,enquanto a Esperteza,ria-se dela,sem nenhum conflito.A Esperteza se aproveitava de todas as oportunidades e se achava tão esperta,que julgava que ninguém jamais ficaria alerta. Sabia falar bem. Convencia com muita facilidade, enquanto a Dignidade se opunha a toda aquela falsidade.
A Sabedoria,fingindo-se de cega, propôs às duas uma tarefa:
- Que fossem a uma festa e trouxessem a pessoa mais honesta.
A Esperteza logo encontrou a Mentira e com muita sutileza, voltou à casa da Sabedoria.
A Dignidade,por sua vez,decidiu que a Honra era a pessoa mais sensata,entre tantas que ela conhecera. E assim,as duas se encontraram face a face com a Sabedoria.
Enquanto a Esperteza fingia ter encontrado a pessoa certa, a Dignidade mantia-se o mais honesta possível.
A Sabedoria olhou as duas e percebeu que a Esperteza estava impaciente. Trazia um saco às costas, que não parava de se mexer. Parecia que tinha alma e precisava se intrometer, na conversa que a Sabedoria tentava manter.
A Esperteza se distraiu por um momento e deixou escapar a Mentira, que se perdeu no mundo e até hoje continua a correr.Então a Sabedoria chamou a Dignidade e com muita Honra,a encarregou de manter o Mundo longe de toda a falsidade,ter cuidado com a Esperteza e se manter com muita dignidade. Tarefa árdua, que a Dignidade se comprometeu a manter. Procedendo assim, poderia conseguir que a Honra enfim, triunfasse onde a Mentira deixasse a pegada de seus passos....



Débora Benvenuti


quinta-feira, 22 de abril de 2010

A Razão e a Emoção





A Razão e a Emoção

A Razão e a Emoção

eram duas amigas inseparáveis.

Tinham as suas divergências,

porque a Razão sempre achava

que sabia tudo,

embora a Emoção muitas vezes

superasse a Razão,

em todas as suas argumentações.

Viviam as duas num mesmo coração,

nem sempre com a mesma convicção.

A Emoção era muito sensível.

Bastava alguém falar macio,

pedir baixinho,

contar algum acontecimento triste

e lá vinha a Emoção crescendo

dentro do coração,

até sufocar a Razão,

naquele espaço tão pequeno,

onde as duas conviviam,

sempre que podiam.

Quando a Razão percebia

que a Emoção se envolvia

em algum assunto do Coração,

chamava a sua atenção,

mas nem sempre era ouvida

e tão absorvida ficava

em suas emoções,

que não ouvia os argumentos

da Razão.

Quando percebia que havia agido

por impulsos,

seduzida pela Paixão,

ficava decepcionada com o Coração

e o culpava por toda a sua

agitação.

Prometia a si mesma,

nunca mais cometer os mesmos erros

e ouvir a voz da Razão.

O problema é que a Razão

nem sempre tinha razão.

Então a Emoção se sentia perdida

e acabava culpando o Coração,

por colocar a emoção

sempre acima da Razão...



Débora Benvenuti