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domingo, 3 de julho de 2011

A Confiança e a Suspeita



A Confiança e a Suspeita


A Confiança era um ser muito delicado. Aparecia de repente e ia se instalando aos poucos nos lugares mais inesperados.Usava toda a sua inteligência (era dotada de inúmeras facetas) quando queria persuadir alguém a acreditar nela. E para isso não media esforços. Era muito perspicaz e logo percebia os detalhes que a ninguém mais parecia importar. Isso fazia com que estivesse sempre alerta a tudo o que acontecia e aproveitava todas as oportunidades para se infiltrar no mais íntimo dos sentimentos. Depois de estabelecida, baixava e guarda e isto fazia com que se tornasse vulnerável. Aparecia então a Suspeita, que estava sempre a espreita, para fazer com que a Confiança perdesse aquele seu ar arrogante de quem tudo quer e tudo sabe.Era nesse momento que a Suspeita aproveitava para analisar as fraquezas da Confiança. Sem que a Confiança se desse conta, a Suspeita ia analisando cada palavra proferida por ela e ia tentando encaixar as peças que ela,distraidamente, ia deixando pelo caminho. Cada vez que conseguia juntar uma peça, o jogo se tornava mais interessante e a Suspeita ficava mais intrigada com a confiança que a Confiança tinha nela própria. Não era capaz de perceber que estava sob suspeita e assim, cada vez mais, baixava a guarda e sem perceber, acreditando que todos acreditavam nela, ia cedendo terreno para que a Suspeita se infiltrasse e conseguisse juntar as peças do quebra-cabeça, até que a verdadeira face da Confiança aparecesse. Quando a Confiança percebia que ninguém mais acreditava nela, ficava desesperada e desmentia tudo o que a Suspeita falava dela e tentava de todas as maneiras, recuperar o que não podia mais ser recuperado: A Confiança!


Débora Benvenuti

terça-feira, 21 de junho de 2011

As Lágrimas do Silêncio


As Lágrimas do Silêncio


O Sonho deslizava suavemente
pelo tapete mágico da mente.
Seus pezinhos delicados
estavam machucados
de tanto andar ao relento.
Fazia frio e o sereno da noite
era tão intenso,
que mais parecia um véu
salpicado de gotículas brilhantes.
O Silêncio adormeceu,
cansado de esperar pelo Sonho.
E quanto mais esperava,
mais cansado ficava.
Sabia que um dia o Sonho
estaria de volta
e o Silêncio poderia adormecer,
aconchegado ao Sonho.
E os dois assim apaixonados
viveriam novamente lado a lado.
O Sonho sempre aparecia
quando o Silêncio adormecia.
Era tão delicado,
que por onde passava
rabiscava palavras de carinho
na memória do Silêncio,
para que ele quando acordasse,
lembrasse de tudo o que haviam
sonhados juntos.
Mas muitas vezes o Sonho desaparecia,
cansado de ser só sonho.
E quando isso acontecia,
o Silêncio entristecia.
Ficava calado por longos períodos
e nem mais um som se ouvia.
As lágrimas do Silêncio
escorriam por sua face,
feito lâminas de aço.
E quando o Sonho aparecia,
o Silêncio se desfazia.
A lágrima que escorria,
Desaparecia...


Débora Benvenuti

quinta-feira, 31 de março de 2011

A Emoção e a Esperança



A Emoção e a Esperança



A Emoção estava adormecida há muito tempo.Por mais que ela tentasse se manter acordada,estava sempre sonolenta a maior parte do tempo. Sua amiga Esperança,preocupava-se com ela. Sentava-se ao lado de sua cama e mesmo percebendo que a Emoção dormia,falava suave a seus ouvidos,esperando que algum dia a amiga pudesse ouvi-la. Mas a Emoção continua impassível. Nenhum músculo em seu rosto demonstrava que ela ouvia ou que sentia alguma coisa.Apesar de todos os esforços parecerem inúteis,a Esperança continuava ao lado da Emoção. Ficava horas observando as feições da amiga,pois sabia que em algum momento a Emoção deixaria transparecer algum sentimento. Até que um dia,uma lágrima escorreu pelo rosto da Emoção e ela lentamente abriu os olhos,como se despertasse de um longo sonho. A Esperança sentiu uma alegria imensa,ao perceber que a amiga estava reagindo.Pegou um lencinho de papel e delicadamente secou a lágrima,que teimosa,insistia em escorrer pelo rosto da Emoção e assim que ela despertou por completo, uma sensação de paz tomou conta do seu rosto. Aos pouco,a Esperança foi descobrindo o que deixara a amiga naquele estado de letargia. Não queria parecer indiscreta,mas não se conteve e perguntou a amiga o que estava acontecendo. A Emoção,então respondeu,falando devagar,como se estivesse muito cansada:
- Eu estive a espera de um grande amor. Esperei por ele todos os dias. O imaginei chegando e  fazendo-me sentir todas as sensações que eu queria sentir.
-E o que aconteceu? Esse amor chegou ou não? Perguntou a Esperança, curiosa.
- Eu até pensei que ele tivesse chegado. Senti meu coração bater descompassado com aquela sensação de felicidade invadindo todos os meus poros...
- E não era o amor, quem estivera a bater a tua porta?
- Tudo parecia estar perfeito. Poderia ser o indício de um grande amor, mas acho que ele não estava preparado para viver aquele momento.
- E o que foi que aconteceu,depois de o teres encontrado?
- Não sei exatamente o que houve,ele simplesmente não deu mais notícias.
- Como assim,não deu mais noticias? Quer dizer que ele desapareceu, assim,como num toque de mágica?
- Pois foi exatamente isso o que aconteceu. Ele parecia ser muito honesto em tudo o que dizia,mas me deixou com a alma vazia. Com aquela sensação de que tudo não passou de uma ilusão.
A Esperança sorvia cada palavra da amiga e enquanto ela falava,ia pensando em algo para dizer,que fizesse a Emoção voltar a sentir as mesmas sensações que a faziam se sentir mais animada. Não era fácil fazer a Emoção demonstrar sentimentos,mesmo assim,depois que a amiga terminou de falar,ponderou:
- Pense em todas as possibilidades que o fizeram se afastar sem nenhum motivo aparente e não se deixe abater com sentimentos sombrios. Lembre-se que por detrás das nuvens o sol continua a brilhar...

Débora Benvenuti

domingo, 27 de março de 2011

Páscoa Feliz



 

Páscoa Feliz



Era uma vez um coelhinho
que de tanto saltitar
esqueceu o caminho de casa
e não soube mais voltar.
Mamãe-coelha, preocupada
o filhote foi buscar.
Salta aqui, salta acolá
e nada do filhote encontrar.
Numa toca, na colina,
numa cesta escondida 
o coelhinho foi achar,
muitos ovos coloridos,
que ficaram esquecidos,
muitos deles sem pintar.
Por que tantos ovos,
se pôs o coelhinho a pensar...
E então mamãe-coelha
ao filhote foi contar
o significado da Páscoa
que ele parecia ignorar
Cada ovo simboliza
um momento singular,
É neste instante mágico
que uma nova vida vai começar
e então mamãe-coelha
ao filhote foi contar
o significado da Páscoa
que ele parecia ignorar
Cada ovo simboliza
um momento singular,
É neste instante mágico
que uma nova vida vai começar
É o Renascimento,
O Dom Divino
que costumamos comemorar,
Cristo vive e é isso
que nós devemos lembrar,
todas as ofensas perdoar
e uma Boa Páscoa
A todos desejar...

Débora Benvenuti

domingo, 13 de fevereiro de 2011

A Mão Direita


A Mão Direita



A Mão Direita era sábia e inteligente. Quando era jovem,passava o tempo livre folhando livros e mais livros,na busca do conhecimento e do saber.Depois que logrou êxito em seus estudos,conseguiu um bom emprego,formou  uma família, mas nunca deixou escapar uma boa oportunidade, assim que ela aparecia. Por entre seus dedos ágeis, iam se somando grandes investimentos e assim ele formou uma base sólida, criou uma empresa e passou a administrar os seus funcionários pessoalmente. Todos o consideravam um homem bom. Distribuía igualmente a quem precisasse, o que para ele não fazia falta. Era honesto e muito competente em tudo o que fazia. Mas tinha um defeito, como não poderia deixar de ser. Ficava horas e horas observando o que fazia a sua mão esquerda. Se ela cometesse um engano, a advertia verbalmente e de forma ríspida, para que todos pudessem ouvir. Muitas vezes humilhava os dedinhos da mão esquerda, que não eram tão sábios quanto os dedos da sua mão direita. Não admitia erros e não suportava que alguém lhe dissesse que estava errado. A Mão Direita tinha um ponto fraco: era apaixonado pelo Dedo Mínimo. Por esse dedo, fazia o possível e o impossível. Assim, se alguém precisasse chegar até ele, bastava que falasse ao ouvido do Dedo Mínimo, para que a Mão Direita escutasse. Entretanto, tudo o que fazia a Mão Direita, a esquerda ficava sabendo e muitas vezes, de forma não muito agradável. Assim, os dedinhos da mão esquerda trabalhavam sempre de cabeça baixa, temendo por seus empregos. E eram monitorados o tempo todo por câmeras de vigilância, para que não perdessem um minuto sequer fazendo algo que não se relacionasse exclusivamente com seus afazeres. Todos trabalhavam com medo e a Mão Direita dizia que só assim todos poderiam respeitá-lo e trabalhavam exaustivamente porque precisavam do emprego. Algumas vezes a Mão Direita ameaçava tirar da Mão Esquerda, os anéis que havia dado em um momento de complacência. Então os dedinhos da Mão Esquerda ficavam deprimidos e angustiados e já não conseguiam trabalhar nem dormir descansados. Um dia apareceu um sábio que confabulou ao ouvido da Mão Direita:
“ Que não saiba a Mão Esquerda, o que faz a Mão Direita...”


Débora Benvenuti

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

A Depressão e a Esperança




A Depressão e a Esperança



A Esperança acordou animada. Calçou os chinelinhos e se levantou da cama. Espreguiçou-se e foi abrir as cortinas do seu quarto. O dia estava lindo. O sol se infiltrava por entre as persianas da janela e desenhava lindas figuras na parede.Tudo parecia perfeito. Depois de se vestir, a Esperança saiu cedo, como sempre fazia. Adorava respirar o ar puro a cada manhã. Isto a fazia sentir-se bem e era muito bom começar o dia assim. Havia uma alameda coberta de folhas secas que mais parecia um tapete e era por lá que a Esperança adorava caminhar. Por onde andava, encontrava os amigos e ia espalhando mensagens de ânimo a cada um deles. Nessa manhã, deparou-se com a sua amiga Depressão, que há muito tempo não encontrava. Ela estava sentada embaixo de uma árvore, absorta, olhando fixamente para um ponto indefinido e não percebeu a Esperança ao seu lado.
- Posso ajudar, amiga Depressão? Sem esperar resposta, a Esperança sentou-se ao lado da Depressão. Recostou-se no tronco da árvore onde a amiga se encontrava e ficou esperando que ela falasse alguma coisa. Como não obteve resposta, pensou em alguma coisa para dizer. Precisava induzir a Depressão a contar o que a afligia tanto, mas o silêncio da amiga começava a preocupá-la.
Depois de alguns minutos em silêncio, a Depressão falou:
- Não consigo pensar em nada que me interesse. Fico horas observando o nada e nada acontece.
- Você já procurou ajuda de um profissional?
- Ninguém pode me ajudar, falou a Depressão, olhando fixamente um ponto que só ela podia ver.
- Às vezes também me sinto assim. Na verdade, acho que todos nós em algum momento nos sentimos assim, sem ânimo para nada. - Mas eu não consigo fazer as mesmas coisas que fazia antes. Sinto-me cansada e não consigo me concentrar em nada. - Pois devia fazer um esforço. Por que não tenta levantar, caminhar ao meu lado, enquanto conversamos?
- Até para caminhar me sinto cansada. Nada que eu comece, consigo terminar. - Pois vamos tentar juntas, disse a Esperança, estendendo a mão para a amiga, para que ela pudesse se levantar. A Depressão aceitou a mão que a amiga lhe oferecia. Levantou-se com algum esforço e se pôs a caminhar ao lado da Esperança. Depois de algum tempo calada, a Depressão percebeu que as coisas não pareciam tão ruins como antes. A Esperança corria alegremente à sua frente, fazendo tantas piruetas que a Depressão acabou achando graça da amiga. Primeiro, foi só um sorriso tímido que aflorou aos seus lábios. Depois, foram sonoras gargalhadas que se podia ouvir a quilômetros dali. As duas riam alegres e despreocupadas. Por um momento, a Depressão esqueceu dos seus problemas. Era tão bom poder conversar, rir de pequenas coisas e não pensar mais em nada. As duas seguiram conversando animadas. Quando se despediram, a Esperança novamente aconselhou a Depressão a procurar um médico e a seguir o tratamento direitinho. Fazendo isso, em pouco tempo ela estaria novamente vendo o mundo com outros olhos.

Débora Benvenuti

A Dúvida



A Dúvida




A Dúvida não conseguia dormir sossegada. Todas as noites acontecia a mesma coisa. Depois das atividades do dia, ela se acomodava no sofá, ligava a tv, escolhia um bom filme e se recostava em uma almofada para relaxar. Mas isso não a deixava sossegada. Ficava sempre na dúvida se não havia esquecido de fazer alguma coisa. E quando isso acontecia,
a Interrogação aparecia e tecia comentários que faziam a Dúvida ficar em dúvida.
- Você não está esquecendo nada, perguntava a Interrogação, só para ver se a Dúvida ficava curiosa.
- De que posso ter-me esquecido? Perguntava a Dúvida, erguendo uma sobrancelha, já pensando no que diria a amiga, ao ver que ela ficava em dúvida.
- Percebi que hoje você não fechou as persianas da janela do quarto...
- Fechei sim ou será que não?
- Está chovendo...vai entrar água pela janela...
- Mas eu tenho certeza de que fechei...ou será que não...?
Lá saia a Dúvida correndo para ver se havia fechado a janela...
Todos os dias ela revisava mentalmente tudo o que havia feito,mas acabava sempre esquecendo alguma coisa. Pensou em algo que pudesse fazer para não precisar mais ficar na dúvida. Depois de muito pensar, encontrou uma solução que acreditou ser razoável. Anotou em uma agenda de bolso as coisas que fazia todos os dias. Sempre que ia sair, verificava tudo cuidadosamente e ia marcando com um “x” tudo o que precisava ser feito. É claro que dava trabalho, mas era só uma questão de hábito. Assim, nunca mais ficaria na dúvida e a Interrogação não mais a importunaria...


Débora Benvenuti

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

A TRAVESSIA



A Travessia



Em uma ilha deserta, viviam quatro amigos que esperavam há muito tempo serem resgatados. A Esperança era responsável por manter a todos unidos, sem jamais deixar que se entregassem ao desânimo. O Amor se preocupava em fazer com que todos fossem amáveis uns com os outros e a Felicidade estava sempre presente nestes momentos. Procurava iluminar as feições de cada um, para que todos pudessem ver uns aos outros como se fosse um espelho. O Tempo era amigo e conselheiro. Ficava horas fitando o horizonte, para ver se surgia alguma embarcação, mesmo quando todos dormiam. E assim os dias iam se prolongando até se transformarem em anos. Certo dia apareceu na ilha uma velha embarcação, conduzida por um homem de barba grisalha e olhar bondoso. Os amigos ficaram eufóricos,imaginando que finalmente poderiam voltar para casa. A Esperança se sentiu renascer. Perguntou ao barqueiro se podia fazer a travessia levando todos os amigos com ela.
- Não, respondeu o barqueiro. Só posso levar comigo apenas um dos seus amigos.
- E porque não podes levar a todos?
- Porque há o risco de naufragarmos.
- Mas a embarcação me parece segura,respondeu a Esperança, um tanto desapontada.
- Pode até parecer segura, mas o casco está trincado e já começa a fazer água.
A Felicidade saltitava entusiasmada, imaginando que talvez ela pudesse ser a escolhida.
O Amor se aproximou cauteloso e sugeriu que fizessem uma análise da situação,para ver quem estaria em melhores condições de partir da ilha em busca de ajuda.
Talvez a Esperança fosse a escolhida, mas depois de muito pensarem,chegaram à conclusão que não poderiam ficar sem ela. O segundo indicado foi o Amor. Mas talvez o Amor fizesse falta. Todos precisariam dele para manter a união dos que iriam ficar na ilha. Então pensaram que a Felicidade pudesse ser a mais indicada para realizar essa tarefa. Mas como poderiam ficar sem a Felicidade para lhes fazer companhia? Era ela que fazia com que todos sorrissem, apesar das dificuldades que encontravam. Restava apenas o Tempo. Como não haviam pensado nisso? Só o Tempo seria capaz de ir e vir, sem perder tempo. E apesar de ser o mais velho dos quatro amigos, ainda podia passar despercebido, sem que ninguém desse por sua falta. E assim foi feito. O Tempo fez a travessia com o barqueiro e desembarcou no Futuro,que ficou encarregado de voltar ao Passado e resgatar os três amigos que ficaram perdidos no tempo,esperando que o Tempo voltasse atrás e os resgatasse...Mas será que o Tempo voltaria para buscá-los?
A Esperança pensava que sim...

Débora Benvenuti

sábado, 15 de janeiro de 2011

O Sonho Adormeceu


O Sonho Adormeceu


O Sonho adormeceu,
ouvindo a chuva cair de mansinho.
Os pingos escorrendo pela vidraça
desenhavam figuras,
que sumiam feito fumaça.
Os sons da rua ecoavam uma melodia
que mal se ouvia,
enquanto a tarde se fazia noite,
e o dia suspirava
as canções que ouvira durante o dia.
Os sons foram diminuindo
e a chuva aos pouco
foi se transformando em pingos,
que batiam compassados,
marcando um ritmo cadenciado.
O Sonho adormeceu abraçado ao travesseiro.
De tudo o que sonhou,
restou apenas a esperança,
que guardou na lembrança,
para sonhar feito criança.


Débora Benvenuti

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

A IMAGINAÇÃO E A INSPIRAÇÃO



A Imaginação e a Inspiração


Por mais que se esforçasse,
a Imaginação estava sem inspiração.
Sempre fora muito criativa,
mas depois que começou a trabalhar,
a Imaginação se cansou
e sem inspiração,
nada mais contou.
Queria dizer aos amigos
o motivo de sua ausência,
mas quanto mais pensava,
mais sentia que a carência
da inspiração tudo dificultava.
Não necessitava de relógio,
era livre e não media as horas.
Agora era escrava do tempo
e precisava estar atenta.
E foi com essa convicção,
que encontrou a Inspiração,
despida de qualquer intenção,
esperando o momento certo,
para fazer as suas persuasões.
Queria convencer a Imaginação
que ela não precisava da Inspiração.
Quando alguém perguntasse,
onde era a fonte,
bastava dizer que a nascente,
mudava a cada instante
e dependia da Inspiração
para ser sua representante.
Mas a Imaginação estava cansada.
Chegava em casa desanimada,
depois de um dia inteiro,
fazendo contas e calculando
o que devia fazer primeiro:
Se escrever novos roteiros
ou ir para a cama e adormecer,
para outro dia ver nascer
e sem mais argumentos,
se convencer,
que trabalhar é bom,
mas dá o que fazer...


Débora Benvenuti