MEU LIVRO - EDITORA CORPOS - PORTUGAL

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

O Poema e a Ilusão



O Poema estava apaixonado

pela Ilusão.

Escrevia versos e tentava

conquistar seu coração.

Com palavras carinhosas,

fazia todo o dia

uma declaração.

A Ilusão não queria

demonstrar a sua paixão.

Acreditava que tudo

não passava de uma mera confusão.

Por ser Ilusão,

muito cedo desapareceria

e causaria uma enorme decepção,

a esse coração que dizia amá-la

e não conseguiria viver

com a rejeição.

Sabia muito bem que sofreria,

e sabendo da sua triste condição,

tão logo percebesse o engano,

partiria sem rumo e sem direção.

O Poema, percebendo a sua hesitação,

pediu a Ilusão que convivesse

para sempre no seu coração.

Casariam sem muita badalação,

sem festa e sem convidados,

para não serem incomodados,

nesta nova fase

que iniciavam com tanta convicção.

Para não serem enganados,

selaram assim essa união:

O Poema viveria

e em seus versos escreveria,

tudo o que sentia,

mesmo sabendo que o que sentia

Era a mais pura ilusão.

 

 

 

 

Débora Benvenuti


domingo, 7 de agosto de 2011

O Vento e a Flor


O Vento e a Flor

 

O vento sopra devagar

e faz a flor suavemente balançar.

Suas pétalas perfumadas

espalham um aroma sedutor,

que até o vento se impregna

desse aroma que exala da flor.

E percorrendo os campos floridos,

por vales, montanhas e mares,

o vento carrega consigo,

mensagens de amor,

a um coração solitário,

que vive sonhando com a flor.

O vento sopra de mansinho,

falando com carinho,

de sentimentos serenos,

sensações tão amenas,

que fazem o coração

se sentir tão pequeno.

Uma lágrima escorre

e um sentimento verdadeiro,

transforma aquele sentimento

num doce devaneio.

Um amor derradeiro,

um sonho inteiro dedicado à flor.



Débora Benvenuti

O Acendedor de Corações e o Amor


O Acendedor de Corações
e o Amor


Quando a noite silencia
e não se ouve mais
os ruídos do dia,
O Acendedor de Corações
retoma a sua rotina.
Foi assim que começou
a estória do Acendedor.
Com a noite como cobertor
e a insônia a lhe inspirar poesia,
ele já sabia
o quanto a noite estava longe
de conhecer o dia.
Ansiava por um amor
que lhe trouxesse um pouco de calor,
falasse palavras doces
e o abraçasse com ardor.
Mas nada disso ele tinha,
para aumentar sua auto-estima.
Passava as noites perambulando
pelas esquinas do seu pensamento.
E quanto mais ele se entretinha
a escrever nas entrelinhas,
mais desejava encontrar alguém
que soubesse
entender o que ele sentia.
E as horas se estendiam
até o raiar do dia,
sem que o Acendedor encontrasse
quem ele mais queria.
Escreveu tantos versos,
falou tanto de amor,
até que alguém ouviu
falar do Acendedor.
Do outro lado do oceano,
um coração que muito amou,
sentiu que era preciso
conhecer o Acendedor.
E conhecedor desse amor,
transformou o Acendedor
num belo livro de poemas,
onde estão reunidos
os mais belos versos
e as mais belas juras de amor,
coisa que só quem já conheceu o amor
é capaz de entender
“ O Acendedor de Corações.”


Débora Benvenuti

sábado, 30 de julho de 2011

O Tempo e o Passatempo



O Tempo e o Passatempo


O Passatempo ficava sempre à janela, esperando o Tempo passar e sempre que o Tempo por ali passava, estava tão apressado que nunca conseguia um tempo para passar o tempo, com o seu amigo, Passatempo. Todos os dias, na hora habitual ( o Tempo nunca se atrasava), lá vinha ele correndo sem mais demora. Tinha uma pressa enorme de passar, embora muitas vezes, poucas pessoas o vissem passar. Ficavam a espera dele e muitas vezes estavam tão distraídas, que ele passava sem ser visto. Até o Passatempo, que estava sempre procurando algo para se distrair, acabava não percebendo o Tempo passar. Um dia, o Tempo passou na janela e percebeu que o Passatempo não era mais o mesmo. Havia envelhecido de tanto esperar o Tempo passar. Condoído por ver o amigo tão decaído, resolver parar um instante para conversar:
- Meu amigo Passatempo, que tens feito?
- Só fico passando o tempo...
- Então deves ter muitas coisas para contar, disse o Tempo.
- Pois fico tão envolvido procurando algo para fazer, que mal te vejo passar...
- E eu sempre tão apressado, mal tenho tempo para parar.
- Como sei que estás sempre apressado, nunca te convido para passares um tempo comigo...
- Desde que sou Tempo, nem tempo mais tenho para comigo. As pessoas sempre estão correndo atrás de mim e como sou muito solicitado, estou sempre apressado.
- A mim também me buscam, quando não sabem mais o que fazer, enquanto te esperam passar...
- Muitos dizem que eu passo rápido demais, embora outros não saibam o que fazer comigo...
- Eu sou quem mais entende disso tudo, já que fico a maior parte do tempo procurando algo para fazer...
- E como Passatempo, pouco tempo tens para me ver passar...
- Só percebo que já passastes, quando me olho ao espelho...Então percebo que já passastes há muito tempo...só eu não te vi passar, tão ocupado estava em passar o tempo...

Débora Benvenuti

sexta-feira, 29 de julho de 2011

A Vaidade e a Felicidade


A Vaidade e a Felicidade


A Vaidade,
muito charmosa,
toda vestida de rosa,
passeando pelo bosque,
encontrou uma fonte de águas cristalinas.
Não contendo a curiosidade,
foi correndo mirar-se
naquele espelho d'água transparente,
para ver se sua imagem
não havia sido alterada.
Percebeu que alguma coisa
estava errada,
porque a imagem refletida,
não mais a ela pertencia
e sim a alguém que ela não conhecia.
Quanto mais admirava
a imagem ali refletida,
mais se entristecia,
pois percebia que a imagem que via
era triste e envelhecida.
Pensou que nunca mais seria
como era antes e assim,
com a aparência enrugada,
pelos anos maltratada,
lamentava-se tristemente:
- Nunca mais seria a jovem
que já fora antigamente
e com esses pensamentos,
deitou-se na relva
e adormeceu profundamente.
Sonhou que viveria para sempre,
se aceitasse as condições
que o Tempo lhe propôs:
- Cada vez que se mirasse
nas águas daquele bosque encantado,
não olharia a imagem refletida,
apenas veria o seu pensamento
e com ele transporia
as portas da Felicidade,
que estaria ao seu lado
toda a vez que ela
assim o desejasse,
mas para isso teria
que observar seus mandamentos,
jamais desejar
o que não mais poderia ter,
contentar-se com o que tivesse,
e assim ela viveria para sempre,
no coração de quem ela mais desejasse.
Então a Vaidade compreendeu,
que a beleza com a qual convivera,
era agora
o reflexo da sua mente...


Débora Benvenuti

sábado, 9 de julho de 2011

A Saudade está de Volta



A Saudade está de Volta


A Saudade está de volta
e bate desesperadamente à porta.
Finjo que não há ninguém em casa,
mas ela astuta,abre a porta e entra.
Ouço seus lamentos,
trazidos pelo vento.
A cortina do meu quarto
rodopia alegremente,
como se estivesse a recordar
suaves tardes outonais,
que não voltarão jamais.
E o meu pensamento traz de volta
tantos sentimentos,
esquecidos num canto escuro
da minha mente.
Em câmera lenta,
vejo esses momentos
se desfazendo em flocos de saudade,
que caiem lentamente
sobre o meu corpo inerte.
Saudade é uma palavra ardente,
que queima os nossos sentimentos,
de forma intermitente.
Ela vai e vem tão sorrateira,
que não deixa marcas na soleira.
Saudade vai,
Saudade vem.
A Saudade nunca se contém,
Nunca sabe se vai...
Ou se vem!


Débora Benvenuti

domingo, 3 de julho de 2011

A Confiança e a Suspeita



A Confiança e a Suspeita


A Confiança era um ser muito delicado. Aparecia de repente e ia se instalando aos poucos nos lugares mais inesperados.Usava toda a sua inteligência (era dotada de inúmeras facetas) quando queria persuadir alguém a acreditar nela. E para isso não media esforços. Era muito perspicaz e logo percebia os detalhes que a ninguém mais parecia importar. Isso fazia com que estivesse sempre alerta a tudo o que acontecia e aproveitava todas as oportunidades para se infiltrar no mais íntimo dos sentimentos. Depois de estabelecida, baixava e guarda e isto fazia com que se tornasse vulnerável. Aparecia então a Suspeita, que estava sempre a espreita, para fazer com que a Confiança perdesse aquele seu ar arrogante de quem tudo quer e tudo sabe.Era nesse momento que a Suspeita aproveitava para analisar as fraquezas da Confiança. Sem que a Confiança se desse conta, a Suspeita ia analisando cada palavra proferida por ela e ia tentando encaixar as peças que ela,distraidamente, ia deixando pelo caminho. Cada vez que conseguia juntar uma peça, o jogo se tornava mais interessante e a Suspeita ficava mais intrigada com a confiança que a Confiança tinha nela própria. Não era capaz de perceber que estava sob suspeita e assim, cada vez mais, baixava a guarda e sem perceber, acreditando que todos acreditavam nela, ia cedendo terreno para que a Suspeita se infiltrasse e conseguisse juntar as peças do quebra-cabeça, até que a verdadeira face da Confiança aparecesse. Quando a Confiança percebia que ninguém mais acreditava nela, ficava desesperada e desmentia tudo o que a Suspeita falava dela e tentava de todas as maneiras, recuperar o que não podia mais ser recuperado: A Confiança!


Débora Benvenuti

terça-feira, 21 de junho de 2011

As Lágrimas do Silêncio


As Lágrimas do Silêncio


O Sonho deslizava suavemente
pelo tapete mágico da mente.
Seus pezinhos delicados
estavam machucados
de tanto andar ao relento.
Fazia frio e o sereno da noite
era tão intenso,
que mais parecia um véu
salpicado de gotículas brilhantes.
O Silêncio adormeceu,
cansado de esperar pelo Sonho.
E quanto mais esperava,
mais cansado ficava.
Sabia que um dia o Sonho
estaria de volta
e o Silêncio poderia adormecer,
aconchegado ao Sonho.
E os dois assim apaixonados
viveriam novamente lado a lado.
O Sonho sempre aparecia
quando o Silêncio adormecia.
Era tão delicado,
que por onde passava
rabiscava palavras de carinho
na memória do Silêncio,
para que ele quando acordasse,
lembrasse de tudo o que haviam
sonhados juntos.
Mas muitas vezes o Sonho desaparecia,
cansado de ser só sonho.
E quando isso acontecia,
o Silêncio entristecia.
Ficava calado por longos períodos
e nem mais um som se ouvia.
As lágrimas do Silêncio
escorriam por sua face,
feito lâminas de aço.
E quando o Sonho aparecia,
o Silêncio se desfazia.
A lágrima que escorria,
Desaparecia...


Débora Benvenuti

quinta-feira, 31 de março de 2011

A Emoção e a Esperança



A Emoção e a Esperança



A Emoção estava adormecida há muito tempo.Por mais que ela tentasse se manter acordada,estava sempre sonolenta a maior parte do tempo. Sua amiga Esperança,preocupava-se com ela. Sentava-se ao lado de sua cama e mesmo percebendo que a Emoção dormia,falava suave a seus ouvidos,esperando que algum dia a amiga pudesse ouvi-la. Mas a Emoção continua impassível. Nenhum músculo em seu rosto demonstrava que ela ouvia ou que sentia alguma coisa.Apesar de todos os esforços parecerem inúteis,a Esperança continuava ao lado da Emoção. Ficava horas observando as feições da amiga,pois sabia que em algum momento a Emoção deixaria transparecer algum sentimento. Até que um dia,uma lágrima escorreu pelo rosto da Emoção e ela lentamente abriu os olhos,como se despertasse de um longo sonho. A Esperança sentiu uma alegria imensa,ao perceber que a amiga estava reagindo.Pegou um lencinho de papel e delicadamente secou a lágrima,que teimosa,insistia em escorrer pelo rosto da Emoção e assim que ela despertou por completo, uma sensação de paz tomou conta do seu rosto. Aos pouco,a Esperança foi descobrindo o que deixara a amiga naquele estado de letargia. Não queria parecer indiscreta,mas não se conteve e perguntou a amiga o que estava acontecendo. A Emoção,então respondeu,falando devagar,como se estivesse muito cansada:
- Eu estive a espera de um grande amor. Esperei por ele todos os dias. O imaginei chegando e  fazendo-me sentir todas as sensações que eu queria sentir.
-E o que aconteceu? Esse amor chegou ou não? Perguntou a Esperança, curiosa.
- Eu até pensei que ele tivesse chegado. Senti meu coração bater descompassado com aquela sensação de felicidade invadindo todos os meus poros...
- E não era o amor, quem estivera a bater a tua porta?
- Tudo parecia estar perfeito. Poderia ser o indício de um grande amor, mas acho que ele não estava preparado para viver aquele momento.
- E o que foi que aconteceu,depois de o teres encontrado?
- Não sei exatamente o que houve,ele simplesmente não deu mais notícias.
- Como assim,não deu mais noticias? Quer dizer que ele desapareceu, assim,como num toque de mágica?
- Pois foi exatamente isso o que aconteceu. Ele parecia ser muito honesto em tudo o que dizia,mas me deixou com a alma vazia. Com aquela sensação de que tudo não passou de uma ilusão.
A Esperança sorvia cada palavra da amiga e enquanto ela falava,ia pensando em algo para dizer,que fizesse a Emoção voltar a sentir as mesmas sensações que a faziam se sentir mais animada. Não era fácil fazer a Emoção demonstrar sentimentos,mesmo assim,depois que a amiga terminou de falar,ponderou:
- Pense em todas as possibilidades que o fizeram se afastar sem nenhum motivo aparente e não se deixe abater com sentimentos sombrios. Lembre-se que por detrás das nuvens o sol continua a brilhar...

Débora Benvenuti