MEU LIVRO - EDITORA CORPOS - PORTUGAL

sexta-feira, 16 de março de 2012

A Saudade e o Tempo


A Saudade e O Tempo


A Saudade sentia-se muito só
e encontrou o Tempo,
que passava naquele instante,
 devagar,sem pressa
e sem saber onde chegar.
Nenhum dos dois estava
com vontade de falar.
A Saudade sentia uma dor enorme,
que lhe impedia de pensar.
Eram um sentimento tão forte,
impossível de suportar.
Por mais que tentasse
esquecer o que a fazia sofrer,
não conseguia dessa sensação
se desfazer.
O Tempo,por sua vez,
estava perdido.
Perambulava pelas esquinas
do seu pensamento
e por mais que tentasse,
não encontrava o que procurava
e isso o deixava fatigado.
Carregava consigo pesadas correntes,
que o torturavam,
a cada passo que dava.
Corria sem pressa de chegar
e isso era muito desgastante.
Perdera-se no tempo
e estava sem tempo para pensar.
Desde que fora descoberto,
nunca mais encontrara tempo
para si mesmo.
Estava sempre correndo
de um lado para outro.
Era muito procurado
e muitas vezes amaldiçoado.
Perdia-se muito tempo
tentando fazer o Tempo passar.
Havia sempre alguém querendo
controlá-lo e isso o deixava desanimado.
Muitas vezes corria apressado,
mas sempre chegava atrasado.
Então chegava a Saudade
e o deixava ainda mais amargurado.
Sentia saudades do tempo
em que não se preocupava
com o próprio tempo.
Mas a Saudade sempre lhe perguntava
se já havia esquecido daquele Tempo
em que havia Tempo para tudo.
Nesse tempo,
o Tempo era dono de si mesmo.
E as velhas recordações
o faziam voltar no tempo
e sem tempo para pensar,
sentia a Saudade o abraçar.
E assim,abraçados,
permaneciam calados,
esperando a Saudade passar
e com o Tempo,sem outro contratempo,
esquecerem-se  que o Tempo por ali
estava a passar...
com as suas pesadas correntes a carregar...


Débora Benvenuti

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

A Mentira e a Verdade



A  Mentira e a Verdade



A Mentira saiu cedo,
mal tinha clareado o dia.
Precisava de um bom motivo
para atrair a Verdade
e torná-la sua amiga.
Sabia que precisava ser esperta,
por que com a astúcia da Verdade,
nenhuma mentira escapava.
Então pensou no caráter da Verdade
e no quanto ela se orgulhava
de nunca ter contado uma mentira.
Sendo assim, tinha que ter muito cuidado,
para fazer uma mentira parecer uma verdade.
Foi aí que se lembrou de algo que estava escondido
numa caixinha dourada,
onde a Verdade guardava toda a sua sinceridade.
Percorreu algumas ruas da cidade,
aquela hora da madrugada,
enquanto todos dormiam
e ninguém estava acordado.
Foi até a casa da Verdade
e retirou do armário a caixinha dourada.
Não se conteve
e a Curiosidade foi maior que a ingenuidade,
pois a Mentira abriu a caixinha
e deixou escapar toda a Verdade.
Quando percebeu que a Verdade havia escapado,
ficou muito preocupada,
agora sim é que estava numa enrascada.
Teria  que falar a verdade para não ser desmoralizada.
A Verdade acordou e encontrou a Mentira ao seu lado,
fingindo que não estava mexendo em nada.
A Verdade então foi verificar,
se tudo estava em seu lugar,
então percebeu que várias verdades
 haviam escapado
de dentro da caixinha dourada.
A Mentira então descobriu,
que havia caído em uma cilada
e teria que falar a verdade,
mas isso era uma coisa que ela abominava.
Seria a mesma coisa que confessar um erro,
e para isso não estava preparada.
A Verdade disse que queria todas as suas verdades
de novo ali guardadas
e incumbiu a Mentira de resgatar toda a verdade.
Essa foi a única vez,
que a Mentira se encontrou numa encruzilhada:
Teria que contar a verdade,
senão seria desmoralizada.
Saiu então a procura da Verdade
 e por onde passava,
ia recolhendo as verdades
e as colocando num saquinho improvisado.
Depois de muito trabalho,
ela voltou mais descansada.
Correr atrás da Verdade
dava trabalho, é verdade,
mas já havia aprendido a lição.
Quanto mais mentiras ela inventasse,
mais teria que encontrar uma verdade,
que a superasse...


Débora Benvenuti

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

O Sonho e o Poema


O Sonho e o Poema



Madrugada.
 Luzes apagadas.
Era hora do Sonho
fazer o seu passeio
tão esperado.
Mas ainda precisava encontrar o seu parceiro,
 o cavalo alado,
porque era com ele que realizava
os mais fantásticos passeios.
Com ele viajava
nas asas da Imaginação.
E assim os dois iriam
até onde pudessem levar
os seus anseios.
Realizar tudo o que sonhassem.
Passear por lindos campos floridos,
encontrar o Amor mais querido
e com ele sonhar sonhos coloridos .
Andar em bosques encantados.
Beber água da fonte cristalina.
Amar na relva úmida de orvalho,
que caia de mansinho,
para não perturbar o Sonho,
que viajava ainda sonolenta
nas asas de seu parceiro,
que o transportava sem receio,
na sua imaginação.
Por onde passavam,
o Sonho se deliciava
com tudo que encontrava
e quanto mais pensava,
mais sonhos idealizava.
Mas ainda precisava encontrar
o seu amigo, o Poema,
porque quando o Sonho voltasse
 para casa,
precisaria ter quem contasse
o seu fantástico passeio.
E só quem poderia relatar
esses momentos mágicos,
era o seu amigo, o Poema.
Porém sem ele,
quando o Sonho acordasse,
tudo seria apagado
e seus belos momentos
ficariam esquecidos.
Por isso o Poema tinha nessa estória
o papel mais importante.
Mas só ele sozinho
não poderia dar conta do recado.
Precisaria ainda
de uma outra aliada,
que não poderia ser esquecida:
- A sua amiga, a Caneta,
que é quem ajuda o Poema
a contar os momentos
mais delicados
que o Sonho tenha sonhado...


Débora Benvenuti

domingo, 20 de novembro de 2011

O Sonho Abandonado




O Sonho Abandonado


Um sonho há muito tempo acalantado,
se sentiu abandonado,
depois de conviver muito
tempo em um  coração apaixonado.
Sabia que era hora de partir,
mesmo estando muito machucado.
Durante muito tempo,
foi cuidado pelo Coração onde habitara.
Era todo dia embalado,
e carinhosamente tratado,
para que continuasse a crescer forte,
e um dia deixasse de ser sonhado,
para  se tornar realidade.
Mas isso não aconteceu,
para desespero do Sonho,
que se viu de repente acordado,
e o que parecia ser um sonho,
nunca chegou a ser verdade.
O Sonho ainda tentou convencer o Coração
de que ainda podia ser sonhado.
Mas como convencer aquele Coração
que já fora tantas vezes enganado?
Como dizer a ele,
que era sonho sim,
mas que podia ser sonhado?
Depois de muito argumentar
e sem nada a acrescentar,
que pudesse fazer o Coração,
esse sonho continuar a sonhar,
o Sonho recolheu os pedacinhos
do que já fora sonhado,
guardou tudo em uma valise,
e sem se despedir do Coração,
saiu em busca de outro lugar
onde pudesse ser sonhado,
em toda a sua dimensão,
com muito mais convicção.

Débora Benvenuti