MEU LIVRO - EDITORA CORPOS - PORTUGAL

domingo, 10 de junho de 2012

O Beijo




O Beijo



O Beijo acordou curioso.
Há muito tempo queria descobrir
como seria o Beijo
em outros países.
Queria conhecer todas as línguas,
mas era pouco estudado.
Então percebeu
que para beijar em Português,
precisaria conhecer um Fado.
Em Francês,
precisaria ser mais versado.
Mon baiser, diria ele
com a língua toda enrolada...
E para beijar um Inglês
teria que falar assobiado.
Kiss, kiss, kiss.
Diria ele todo atrapalhado.
E quanto mais indignado
ficasse com essas palavras
mais interessado ele ficava
em beijar em outras línguas.
E se fosse em Holandês,
aí ficaria complicado.
Kus,kus,kus,
Diria ele meio envergonhado.
O Alemão,
era ainda mais complicado.
Küssen, teria que falar,
mas se sentiria desbocado.
Por que será que um beijo,
teria que ser ter
uma grafia com tanto significado?
Em Galês,
Beijar seria assim:
Cusan, diria o beijo
ainda um tanto desconfiado.
Ficou então muito preocupado
e resolveu que dar um beijo
era coisa para ser pensado...

Débora Benvenuti

terça-feira, 1 de maio de 2012

A Imaginação e o Trabalho


 Imaginação e o Trabalho




A Imaginação estava inquieta.
Seu trabalho era imaginar
e desse trabalho não podia se esquivar.
Se não trabalhasse
nada mais teria o que contar.
Ficou olhando as letrinhas do teclado
e nem uma só palavra conseguia formar.
Pensou em tudo que já imaginara,
mas nada a fazia se concentrar.
Quando o trabalho dava trabalho
ficava difícil trabalhar,
muito menos imaginar,
pensou a Imaginação,
pondo-se a meditar.
Não conseguia entender
porque no Dia do Trabalho
ninguém queria trabalhar.
Quem inventou o Trabalho,
será que sabia quanto Trabalho
o trabalho dava?
Talvez não soubesse,
pensou a Imaginação.
Depois que o Trabalho foi inventado,
ninguém viveu descansado.
Quem fica sem Trabalho
fica muito preocupado.
Correr atrás do Trabalho
dá muito mais trabalho
do que o Trabalho
que o trabalho dá.


Débora Benvenuti

sábado, 28 de abril de 2012

Vendem-se Sonhos



Vendem-se Sonhos


Cansei de guardar comigo
tantos sonhos antigos.
Eu os mantinha assim guardados,
muitos deles separados,
com rótulos coloridos.
Alguns Sonhos Eróticos,
que jamais foram vividos,
nem sequer exibidos.
Por isso o valor de mercado
é muito valorizado e
deve estar sendo cobiçado
por algum colecionador de
Sonhos não Sonhados.
Se você estiver interessado,
em ver um destes sonhos realizado,
entre em contado comigo.
Envie e-mail, mensagem ou torpedo
                         e não tenha medo de ser enganado.
O sonho será enviado
para o endereço indicado.
Só tem um problema
que precisa ficar esclarecido:
O Sonho só poderá ser Sonhado
com a dona deste anúncio,
que deverá ser acompanhado
por um belo champagne, gelado.

Débora Benvenuti

sábado, 7 de abril de 2012

Outono das Ilusões


Outono das Ilusões

Ilusão,
uma imagem,
uma miragem
ou apenas Solidão?
Sentimentos existem
como folhas de outono,
algumas resistem,
outras caiem inertes pelo chão.
E aquela folha que já viu
tantos outonos chegarem,
como estarão nesta estação?
Será que ainda resistem ao tempo
ou o tempo a tornou uma miragem da ilusão?
Outono frio,
Gelado,
Sombrio.
E a folha acredita
que ainda existem sonhos que vem e vão,
como uma noite de verão.
Ilusão,
Miragem,
Solidão.



Débora Benvenuti

domingo, 1 de abril de 2012

A Sombra e a Solidão



A Sombra e a Solidão



A Solidão esgueirava-se pela estrada
e procurava um lugar onde pudesse
se abrigar,antes do escurecer.
Percebia que estava sendo seguida,
mas toda a vez que olhava para trás,
não via ninguém com quem conversar.
Precisava desabafar,
mas nem isso conseguia,
por que ninguém a queria escutar.
Seus pezinhos doloridos
estavam cansados de tanto andar.
A luz do luar fazia a imagem
da Solidão aumentar
e ela percebeu alguém ao seu lado
a soluçar.
A Sombra saiu da escuridão
e a seu lado foi se postar.
Era imensa, gigantesca
e aquela hora da noite,
parecia ainda mais sinistra.
A Solidão sentiu a presença da Sombra
que não parava de se lamentar.
- Estou cansada, estou confusa.
Mal podia a Sombra estas palavras formular,
antes que se pusesse novamente a soluçar.
Por onde eu ando,continuou a Sombra,
fico num canto esquecida,
quieta,calada,muitas vezes sem me mexer
e quem eu sigo nem percebe
a minha presença ao entardecer.
Quando a luz da lua reflete os meus passos,
muitas vezes eu assusto quem eu sigo
e ninguém percebe que eu sou apenas
uma Sombra amiga.
- Pois eu, disse a Solidão,
sofro muito mais discriminação.
Ninguém quer a minha companhia,
vivo só, na escuridão.
A Sombra então se aproximou da Solidão
e a envolveu com seus braços enormes.
 Ficaram as duas quietas, caladas,
observando um raio de luar
iluminar seus corações.

Débora Benvenuti

A Nuvem e o Amor


A Nuvem e o Amor



Uma Nuvem vivia no céu a sonhar.
Queria muito um amor encontrar,
mas não sabia como fazer,
para chamar a atenção do Amor
e fazer ele por ela se apaixonar.
Sentiu a presença do Vento
e lembrou-se que poderia com ele contar,
para o seu sonho realizar.
- Amigo Vento,
disse a nuvem a sonhar,
preciso muito que me ajudes
a um sonho realizar:
Quero muito um Amor encontrar.
O Vento escutou aquele lamento
e resolveu a Nuvem ajudar.
Soprou forte, por um momento,
até ver a Nuvem em um coração
se transformar.
A Nuvem ficou tão contente,
suspirou profundamente,
quando viu o Amor para ela olhar.
Sentiu imediatamente,
que poderia pelo Amor se apaixonar.
E ele aquela linda Nuvem se pôs a admirar.
A Nuvem preferiu nada falar,
sobre a sua condição momentânea.
Amou o Amor com todo o ardor
que havia em seu coração.
E o Amor amou aquela Nuvem,
como jamais julgara amar.
Foram momentos tão felizes,
que o Amor se sentiu nas nuvens.
Adormeceu aconchegado
aquele colo tão macio e aveludado .
Quando acordou, percebeu que a Nuvem
não estava mais ao seu lado.
A Nuvem chorava amargurada,
porque pensou que o Amor a tivesse
abandonado,
mas o Vento que por ali passava,
já a havia transformado
e muito longe dali a transportara.
O Amor a procurou por todo o lado,
mas nunca mais encontrou a Nuvem
por quem havia se apaixonado...
E a Nuvem até hoje,
continua no céu vagando,
em noites enluaradas,
procurando por esse Amor
que a deixou tão arrasada...

Débora Benvenuti

sexta-feira, 16 de março de 2012

A Saudade e o Tempo


A Saudade e O Tempo


A Saudade sentia-se muito só
e encontrou o Tempo,
que passava naquele instante,
 devagar,sem pressa
e sem saber onde chegar.
Nenhum dos dois estava
com vontade de falar.
A Saudade sentia uma dor enorme,
que lhe impedia de pensar.
Eram um sentimento tão forte,
impossível de suportar.
Por mais que tentasse
esquecer o que a fazia sofrer,
não conseguia dessa sensação
se desfazer.
O Tempo,por sua vez,
estava perdido.
Perambulava pelas esquinas
do seu pensamento
e por mais que tentasse,
não encontrava o que procurava
e isso o deixava fatigado.
Carregava consigo pesadas correntes,
que o torturavam,
a cada passo que dava.
Corria sem pressa de chegar
e isso era muito desgastante.
Perdera-se no tempo
e estava sem tempo para pensar.
Desde que fora descoberto,
nunca mais encontrara tempo
para si mesmo.
Estava sempre correndo
de um lado para outro.
Era muito procurado
e muitas vezes amaldiçoado.
Perdia-se muito tempo
tentando fazer o Tempo passar.
Havia sempre alguém querendo
controlá-lo e isso o deixava desanimado.
Muitas vezes corria apressado,
mas sempre chegava atrasado.
Então chegava a Saudade
e o deixava ainda mais amargurado.
Sentia saudades do tempo
em que não se preocupava
com o próprio tempo.
Mas a Saudade sempre lhe perguntava
se já havia esquecido daquele Tempo
em que havia Tempo para tudo.
Nesse tempo,
o Tempo era dono de si mesmo.
E as velhas recordações
o faziam voltar no tempo
e sem tempo para pensar,
sentia a Saudade o abraçar.
E assim,abraçados,
permaneciam calados,
esperando a Saudade passar
e com o Tempo,sem outro contratempo,
esquecerem-se  que o Tempo por ali
estava a passar...
com as suas pesadas correntes a carregar...


Débora Benvenuti

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

A Mentira e a Verdade



A  Mentira e a Verdade



A Mentira saiu cedo,
mal tinha clareado o dia.
Precisava de um bom motivo
para atrair a Verdade
e torná-la sua amiga.
Sabia que precisava ser esperta,
por que com a astúcia da Verdade,
nenhuma mentira escapava.
Então pensou no caráter da Verdade
e no quanto ela se orgulhava
de nunca ter contado uma mentira.
Sendo assim, tinha que ter muito cuidado,
para fazer uma mentira parecer uma verdade.
Foi aí que se lembrou de algo que estava escondido
numa caixinha dourada,
onde a Verdade guardava toda a sua sinceridade.
Percorreu algumas ruas da cidade,
aquela hora da madrugada,
enquanto todos dormiam
e ninguém estava acordado.
Foi até a casa da Verdade
e retirou do armário a caixinha dourada.
Não se conteve
e a Curiosidade foi maior que a ingenuidade,
pois a Mentira abriu a caixinha
e deixou escapar toda a Verdade.
Quando percebeu que a Verdade havia escapado,
ficou muito preocupada,
agora sim é que estava numa enrascada.
Teria  que falar a verdade para não ser desmoralizada.
A Verdade acordou e encontrou a Mentira ao seu lado,
fingindo que não estava mexendo em nada.
A Verdade então foi verificar,
se tudo estava em seu lugar,
então percebeu que várias verdades
 haviam escapado
de dentro da caixinha dourada.
A Mentira então descobriu,
que havia caído em uma cilada
e teria que falar a verdade,
mas isso era uma coisa que ela abominava.
Seria a mesma coisa que confessar um erro,
e para isso não estava preparada.
A Verdade disse que queria todas as suas verdades
de novo ali guardadas
e incumbiu a Mentira de resgatar toda a verdade.
Essa foi a única vez,
que a Mentira se encontrou numa encruzilhada:
Teria que contar a verdade,
senão seria desmoralizada.
Saiu então a procura da Verdade
 e por onde passava,
ia recolhendo as verdades
e as colocando num saquinho improvisado.
Depois de muito trabalho,
ela voltou mais descansada.
Correr atrás da Verdade
dava trabalho, é verdade,
mas já havia aprendido a lição.
Quanto mais mentiras ela inventasse,
mais teria que encontrar uma verdade,
que a superasse...


Débora Benvenuti