MEU LIVRO - EDITORA CORPOS - PORTUGAL

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

O Coração e o Amor


Depois de uma longa caminhada,
o Amor encontrou um coração
e resolveu fazer ali a sua morada.
O Coração desconfiado,
talvez por andar mal acompanhado
e já ter sido tantas vezes enganado,
não quis que o Amor entrasse.
Espiou pelo vão da porta entreaberta,
não deixando de ficar alerta,
caso fosse mais uma vez despertado,
do longo sono em que estivera,
por tantos anos de espera,
sem jamais ter sido incomodado,
por alguém batendo à porta,
justamente nessa hora,
em que repousava na sua almofada,
onde ficava longas horas a fitar o infinito.
Julgava que em algum momento,
alguém iria fazer o caminho inverso,
iria ler os seus versos,
que espalhara pelo universo,
implorando que o Amor passasse trazendo uma flor
e entregasse ao coração, com uma declaração,
dizendo que era o Amor o portador de tão singela flor.
E dessa vez então o Coração acreditaria que era mesmo o Amor,
quem passara ali tão perto.
Falava  palavras tão ternas,
e fazia  juras eternas,
que acabaram conquistando o coração.
Ele se sentiu tão enamorado,
que acabou abrindo a porta e deixando entrar o Amor...



Débora Benvenuti

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

O Travesseiro e a Travessia



Certa vez um Travesseiro

de tanto sonhar com o Amor,

  resolveu fazer uma travessia,

carregando um Sonho, na maré fria.

 Decidiu seguir o vento,

ouvindo o lamento do Mar,

 numa noite em que só se ouvia

o murmurar das ondas

e o canto da sereia na lua cheia.

- Para onde me levas?

 Perguntou o Travesseiro,

às ondas que se erguiam além do mar.

- Viajo por todos os mares

e trago comigo,

 além das mensagens, toda a bagagem

 de quem só sabe amar.

E você, por que carregas,

 com tanto esmero,

esses poemas amigo Travesseiro?

 - Levo comigo todos os sonhos

que um amigo tão distraído  deixou-me carregar.

 São poemas lindos que preciso entregar,

antes que esse sonho possa acabar

E o Travesseiro, todo faceiro,

 os poemas carregou com ele

 e os entregou a quem dizia amar.

 - E o que contém os poemas?
                         
 Perguntou o Mar ao amigo Travesseiro.

- Só contém os desejos

 de um Coração Aventureiro

que vive somente para amar...

 E a travessia o Travesseiro  acabou por realizar.

 O poema foi entregar,

antes que o sonho pudesse acabar

 e esses versos o Mar pudesse apagar...





 Débora Benvenuti

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

A Ilha do Amor


Numa ilha deserta,
há muito tempo desabitada,
O Amor, a Felicidade e a Saudade
ali fizeram a sua morada.
O Amor, a procura de um Coração,
o Coração, em busca da Felicidade
e a Felicidade,
tentando esquecer a Saudade.
E os três, assim entusiasmados,
saíram a procura dos seus amados.
O Amor, depois de muito caminhar,
encontrou uma cabana abandonada.
Lá dentro, um coração
chorava as suas mágoas.
Falava da Saudade que sentia
da Felicidade
e achava que não podia
viver sem um amor de verdade.
Foi a vez da Felicidade
dizer o que sentia,
quando se encontrava sozinha
e não sabia que era Felicidade
o que sentia.
Quando a Saudade chegava
é que descobria
o que era Felicidade...
E a Saudade, então, já acostumada
a ouvir falar de Amor,
 essa dor que habita
os corações apaixonados,
não se admirou,
quando ouviu o Amor
falar da Saudade que sentia
da Felicidade.
E os três então descobriram
que num só coração,
o Amor,
a Saudade e a Felicidade
podiam sim,
viver muito bem aconchegados,
mesmo numa ilha isolados,
falariam de Amor,
Saudade e Felicidade...




Débora Benvenuti

O Fantasma da Solidão



O fantasma da solidão
assola o meu coração.
Quando a noite cai,
 eu me sinto só,
na escuridão.
Observo as folhas das árvores
fazendo sombras na janela
e a lua lá fora,
ainda bela,
me lembra quantas noites
eu fiquei a tua espera.
O espectro da noite
lança sombras na parede.
Imagens gigantescas se formam,
como se fossem grandes braços a envolver-me.
Escondo-me embaixo dos lençóis,
esperando que a sombra vá embora.
Mas por mais esforço que eu faça,
percebo que tudo é em vão.
A sombra vem e me abraça,
com tanta força,
que eu não consigo me desvencilhar desse abraço,
 que me sufoca e me mata.
Sinto as forças se esvaindo lentamente.
O suor a escorrer-me pelo corpo.
Agonizo.
Me debato inutilmente
e desfaleço nos teus braços...
Solidão.




Débora Benvenuti

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

A Saudade e o Tempo



Por mais que tentasse não pensar, a Imaginação ficava horas a fio fitando o infinito. Tentava buscar alguma lembrança que o Tempo pudesse ter apagado e não conseguia se conformar em ter esquecido alguma coisa. O Tempo muitas vezes passava devagar e era nessas horas que a Imaginação tentava fazer com que o Tempo lhe contasse algum segredo, que tivesse se perdido ao longo caminho.
Haviam lembranças um tanto apagadas, que o Tempo carregava num pergaminho e cada vez que o desenrolava,  mais difícil ficava tentar ler alguma coisa. E isso não era tudo: algumas lembranças eram acontecimentos tão estranhos, que a Imaginação acreditava não ter vivido. Então se punha a pensar, se isso tudo não seria uma brincadeira que o Tempo inventava, para testar a memória da Imaginação. Mas como com o Tempo não se brinca, a Imaginação ficava um tanto aborrecida, por não lembrar de coisas tão importantes e das quais sentia uma enorme saudade, mesmo sendo lembranças que se iam apagando pouco a pouco. Precisar lembrar. Não queria esquecer nada, pois cada vez que se distraia, sentia uma enorme saudade de alguma coisa, mas não conseguia lembrar o que era. Era como se uma neblina fina e densa fosse se acumulando no seu pensamento e a impedisse de saber o motivo de tanta saudade.
E a Saudade aos poucos ia desaparecendo, deixando um vazio enorme, que nem o Tempo, com todos os seus afazeres, era capaz de preencher.


Débora Benvenuti

quarta-feira, 30 de julho de 2014

No Vale da Decisão






Andando pela estrada,
um coração cansado,
encontrou-se em um vale encantado.
Percebendo estar sendo observado,
o coração sentiu-se incomodado.
Olhou para todos os lados,
mas não conseguiu descobrir
o que o fazia ficar tão desconfiado.
Foi então que ouviu uma voz que murmurava algo
que o deixou ainda mais admirado,
pois a voz evocava o seu passado.
Como num passe de mágica,
o coração se sentiu no tempo deslocado.
Viajou por muitos lugares,
reviveu amores esquecidos,
realizou todos os sonhos merecidos
e quando se julgou realizado,
retornou ao vale encantado
e percebeu que teria que tomar
uma difícil decisão:
- Continuar como vivera até então
ou dar asas a sua imaginação,
viver como sonhara o seu coração.
Esta seria a mais difícil decisão que precisaria tomar,
com resignação.
Qualquer que fosse a sua escolha,
assim viveria para sempre,
sem jamais voltar atrás na sua decisão.
O coração sentiu-se então tão diminuído naquele vale perdido,
que resolveu viver para sempre no vale encantado,
sonhar acordado,
viver enrolado no seu mais eterno conflito,
sufocar o grito e jamais acordar
do seu sonho aflito!




Débora Benvenuti