MEU LIVRO - EDITORA CORPOS - PORTUGAL

sábado, 7 de fevereiro de 2015

Despedida



Sem querer ouvi este diálogo

entre o Ano Velho e o Ano Novo:

- Sinto-me já cansado

e não tenho mais esperanças,

disse o Ano Velho

ao Ano Novo que se aproximava,cauteloso.

- Não devias te sentir assim.

Tivestes um ano inteirinho

e deves ter muitas coisas para lembrar.

_ Um dia também serás como eu

e então irás lembrar o que me aconteceu.

No início, todos irão te saudar,

mas quando ficares velho,

de ti ninguém irá querer lembrar.

- Não acredito em profecias.

Vou fazer muitas acrobacias

para que ninguém de mim possa reclamar.

- Por mais que faças tudo o que desejas,

sempre haverá alguém

que contigo não irá concordar.

- Talvez não consiga contentar a todos,

mas provarei que posso tentar

e se tentar,tudo poderá mudar.





Débora Benvenuti

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

A Esperança e a Felicidade



A Imginação estava inquieta. Nada em que pensasse a fazia acalmar-se. E não sabia o que estava acontecendo com ela. Decidiu então abrir a caixinha do coração e ver o que havia escondido dentro dela. Sabia que o que encontrasse ali, talvez não a tirasse daquela aflição, que a fazia andar de lá para cá, incansavelmente, a procura de uma resposta. Temerosa, decidiu que era preciso investigar. Com muito cuidado, abriu a caixinha. Dentro dela encontrou vários sentimentos, mas o que mais a deixou estarrecida foi perceber que a Esperança não se encontrava mais lá. Havia fugido. Mas fugido para onde? E com quem? Voltaria algum dia? Por que motivo teria feito isso? Estava cansada de procurar pela Felicidade e resolvera ela mesma sair a sua procura? Estas perguntas surgiam na mente da Imaginação e quanto mais ela se perguntava, menos entendia. Sempre pensara que a Esperança estava adormecida dentro dela. Será que acordara de repente e resolvera sair a correr o mundo, sem data para voltar?
Sem a Esperança, a Imaginação não saberia onde encontrar a Felicidade. E não era aquela felicidade que se encontra nas pequenas coisas do dia-a-dia. A Felicidade que a Imaginação buscava tinha outro nome: Amor! Amor, sim! Um amor que fizesse a Imaginação viver um conto de fadas. Era isso que estava faltando em sua vida. Algo que a fizesse se sentir viva. E quanto mais os dias iam passando, a Imaginação ia enfraquecendo e se tornando cada vez mais solitária. Não tinha nada que abrir a caixinha do coração. Cada vez que fazia isso, algo dentro dela morria um pouco. Nada mais restava agora a não ser esperar que a Esperança retornasse e assumisse o seu papel dentro daquele coração solitário, que nada mais fazia a não ser esperar...mas esperar o que?



Débora Benvenuti

sábado, 25 de outubro de 2014

O Segredo e a Curiosidade



O Segredo andava cansado

de tanto se manter calado.

Cada vez que a Curiosidade se aproximava,

o Segredo se sentia incomodado.

Era tanto desconforto,

que o Segredo já não sabia,

por quanto tempo se manteria calado.

Qualquer coisa que dissesse,

poderia ser mal interpretado

e como conhecia a Curiosidade,

sabia o quanto ela era apressada.

Mal ouvia um comentário

e queria saber tudo

o que o Segredo

mantinha sob os seus cuidados.

O segredo só é segredo,

quando mantido a sete chaves,

repetia o Segredo

sempre que era interpelado.

Certa vez comentara algo

que deveria ficar guardado,

mas a Curiosidade prometera

que ele não seria revelado.

Mal o Segredo virou as costas

e a Curiosidade contou a todos que encontrou,

o segredo que o Segredo ocultava.

Mas pedia a todos a quem contava,

que mantivesse o segredo

e assim ele se espalhava

a medida que era contado.

Cada segredo

que o Segredo escondia,

logo se convertia

em uma grande mentira,

a medida que aumentava.

E assim o segredo,

deixava de ser segredo,

porque ninguém conseguia

ficar de boca fechada!



Débora Benvenuti

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

O Coração e o Amor


Depois de uma longa caminhada,
o Amor encontrou um coração
e resolveu fazer ali a sua morada.
O Coração desconfiado,
talvez por andar mal acompanhado
e já ter sido tantas vezes enganado,
não quis que o Amor entrasse.
Espiou pelo vão da porta entreaberta,
não deixando de ficar alerta,
caso fosse mais uma vez despertado,
do longo sono em que estivera,
por tantos anos de espera,
sem jamais ter sido incomodado,
por alguém batendo à porta,
justamente nessa hora,
em que repousava na sua almofada,
onde ficava longas horas a fitar o infinito.
Julgava que em algum momento,
alguém iria fazer o caminho inverso,
iria ler os seus versos,
que espalhara pelo universo,
implorando que o Amor passasse trazendo uma flor
e entregasse ao coração, com uma declaração,
dizendo que era o Amor o portador de tão singela flor.
E dessa vez então o Coração acreditaria que era mesmo o Amor,
quem passara ali tão perto.
Falava  palavras tão ternas,
e fazia  juras eternas,
que acabaram conquistando o coração.
Ele se sentiu tão enamorado,
que acabou abrindo a porta e deixando entrar o Amor...



Débora Benvenuti

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

O Travesseiro e a Travessia



Certa vez um Travesseiro

de tanto sonhar com o Amor,

  resolveu fazer uma travessia,

carregando um Sonho, na maré fria.

 Decidiu seguir o vento,

ouvindo o lamento do Mar,

 numa noite em que só se ouvia

o murmurar das ondas

e o canto da sereia na lua cheia.

- Para onde me levas?

 Perguntou o Travesseiro,

às ondas que se erguiam além do mar.

- Viajo por todos os mares

e trago comigo,

 além das mensagens, toda a bagagem

 de quem só sabe amar.

E você, por que carregas,

 com tanto esmero,

esses poemas amigo Travesseiro?

 - Levo comigo todos os sonhos

que um amigo tão distraído  deixou-me carregar.

 São poemas lindos que preciso entregar,

antes que esse sonho possa acabar

E o Travesseiro, todo faceiro,

 os poemas carregou com ele

 e os entregou a quem dizia amar.

 - E o que contém os poemas?
                         
 Perguntou o Mar ao amigo Travesseiro.

- Só contém os desejos

 de um Coração Aventureiro

que vive somente para amar...

 E a travessia o Travesseiro  acabou por realizar.

 O poema foi entregar,

antes que o sonho pudesse acabar

 e esses versos o Mar pudesse apagar...





 Débora Benvenuti