MEU LIVRO - EDITORA CORPOS - PORTUGAL

terça-feira, 19 de abril de 2022

Quando a noite Chegar






Mais uma vez,

as luzes se apagam

e a noite chega...

Misteriosa...escura...tenebrosa...

Ouço os sons da tua ausência

misturados ao silêncio

dessa noite que acaba de chegar.

Mas não é a noite

que se despede do dia.

É a minha alma que se torna escura

sem a tua companhia.

Meu coração bate inquieto,

procuro em vão estar desperta,

para quando a noite chegar,

eu poder te encontrar,

falar desse sentimento

que me invade o pensamento

e não me deixa contigo sonhar.

Como quisera contigo estar,

mas vejo com tristeza

que o dia está a clarear

e sem você

me sinto como um veleiro

em alto mar a naufragar.

São ondas traiçoeiras

que me jogam contra o rochedo

desse sentimento

que me fez de ti me afastar...

O esquecimento enfim chegou

e apagou as chamas do desejo

que faziam os teus olhos brilhar.

Hoje é só a lembrança

que ainda insiste em vir me visitar,

quando a noite chegar...


 

Débora Benvenuti

terça-feira, 29 de março de 2022

ENCONTRO COM A SOLIDÃO

 


A Solidão era um ser desprezível. Seu aspecto era nebuloso e suas asas negras eram imensas e desajeitadas. Sabedora de seu aspecto não muito agradável, esgueirava-se na noite escura a procura de um coração solitário, onde pudesse se abrigar. Surgia sorrateiramente, para que ninguém percebesse a sua presença indesejada e ficava à espreita, na soleira da janela, esperando o momento oportuno para se instalar. Mesmo sendo Solidão, mal suportava a sua própria presença. Sabia que a qualquer momento, um coração distraído abriria a sua janelinha, na esperança de ver o Amor passar e ela então surgiria, disfarçada, usando de toda a sua lábia para conquistar esse coração e fazer ali a sua morada. Não demorou muito tempo e ela viu o Coração aparecer à janela. Aproximou-se devagar, para que o Coração não percebesse o seu disfarce (ela era ardilosa e se transformava rapidamente num ser qualquer, inclusive o Amor) e usando de palavras macias e delicadas, dirigiu-se ao Coração, usando estas palavras:

- Estava a sua espera...

- Quem és tu, perguntou o Coração, estranhando o fato de encontrar alguém ali, naquela hora da noite.

- Sou tudo o que quiseres que eu seja, respondeu a Solidão, usando de toda a sua artimanha.

- És o Amor? Perguntou o Coração.

- Sou mais do que isso. Posso ser a sua companhia sempre que desejar.

- Eu preciso encontrar o Amor. Abro a janela todas as noites, mas não o tenho visto passar.

- Pois então, convide-me a entrar e depois feche a janela. Assim estaremos mais à vontade para conversar.

- Será que posso confiar em você? Perguntou o Coração, um tanto receoso.

- É claro que podes confiar em mim. Eu vim para ficar...

O Coração distraído deixou a Solidão entrar e só depois de muito tempo, percebeu que havia sido enganado. E a Solidão, como prometera, se instalou naquele coração e fez ali a sua morada...


Débora Benvenuti