MEU LIVRO - EDITORA CORPOS - PORTUGAL

quinta-feira, 23 de maio de 2013

A Saudade e o Amor II






             A Saudade andava se sentindo muito só. Por onde passava, ia deixando pegadas tão profundas, quanto o peso que carregava em sua alma. Cansada do fardo que  carregava, sentou-se à sombra  de uma árvore, espreguiçou-se como pôde, aspirou o suave perfume das flores naquele belo dia  de primavera, deitou-se na relva macia e sentiu-se adormecer  profundamente. O Amor ia passando por ali e naquele momento e  encontrou a Saudade, num sono tão inocente, que sentou-se ao seu lado e ficou a observá-la. Sentiu-a tão triste ali sozinha, naquele sono tão displicente, que sentiu um enorme carinho pela Saudade. Tocou-lhe a face com suavidade e  sussurrou-lhe ao seu ouvido palavras tão ternas, como nunca antes a Saudade havia ouvido. Ela então sentiu a presença do Amor ao seu lado, abriu os olhos de mansinho e percebeu como era lindo o Amor, quanta delicadeza havia naquele olhar e que ternura  emanava do seu coração. Uma lágrima escorreu pela face da Saudade e o Amor então se aproximou e tocou  suavemente com os lábios aquela lágrima que a Saudade deixara escorrer.Foi um momento sublime, de rara beleza. O Amor então estendeu a mão, para que a Saudade pudesse se levantar. Abraçou-a docemente, recolheu o fardo que a Saudade carregava e os dois partiram abraçados pela estrada, sentindo que estariam sempre juntos, por onde quer que andassem, por toda a Eternidade...


Débora Benvenuti

domingo, 19 de maio de 2013

O Vazio e a Curiosidade




Havia certos momentos em que o Vazio se apoderava de todos os sentimentos e ia se alastrando em todas as direções, sufocando a quem ele encontrasse pelo caminho.Não deixava nenhum espaço sem ser ocupado. Esmagava as emoções de forma tão perversa, que nada por perto parecia ter vida. A Esperança,nesses momentos, sentia-se impotente, perante o vazio avassalador que teimava em obstruir todas as  frestas do seu coração. Era em momentos assim, que a Curiosidade não se contia. Analisava todos os ângulos daquele vazio imenso, procurando  descobrir uma forma de se infiltrar e fazer a Esperança acordar daquele sono hipnótico, no qual caíra em profundo esquecimento. Nenhum som se ouvia, apenas o tic-tac do relógio marcando o tempo, que insistia em passar, movendo os ponteiros de forma ritmada, como se fosse um robô, à mercê do próprio tempo. E o Tempo, que sempre estava a passar, nada percebia ou se percebia, nunca tinha tempo nem para ele mesmo, quanto mais para perceber o quanto o Vazio preenchia o tempo. E assim, dessa forma desordenada, a Curiosidade se mantinha em sua forma mais sutil, buscando uma forma de regatar as emoções e fazê-las preencher o Vazio, para que se tornasse novamente habitável.


Débora Benvenuti

segunda-feira, 13 de maio de 2013

O Coração e a Esperança







O Coração acordou assustado.
Estava muito cansado
e tivera um sono agitado.
Passara a noite num lugar encantado,
onde haviam gnomos e fadas.
Lembrava apenas de algumas cenas,
que se delineavam em sua mente,
como um filme que assistia sempre.
E cada vez que isso acontecia,
ele sentia que precisava assisti-lo novamente.
Eram raros esses momentos,
Mas ele queria voltar a dormir
e sonhar o mesmo sonho,
mesmo que esse sonho fosse um tormento.
Queria continuar sonhando,
e pediu a sua amiga Esperança,
que o fizesse dormir,
e enquanto ele dormisse,
o transportasse ao mesmo lugar
onde sabia que iria encontrar outro Coração,
que o estava a esperar.
Ele sabia que só lhe restava sonhar,
mas enquanto fosse sonho,
poderia realizar.
Queria muito um Amor encontrar,
e a Esperança se pôs a imaginar como faria
para esse sonho realizar.
Enquanto o Coração dormia,
bateu de porta em porta,
até encontrar
um Coração de alma vazia,
que já não mais conhecia a Esperança.
Quando ela se aproximou,
o Coração ficou receoso
e dela se aproximou, cauteloso,
pois há muito tempo não a via.
A Esperança tentou convencê-lo
de que encontrara outro Coração
que desejava conhecê-lo.
O Coração ficou desconfiado,
pensou muito, pois já sabia
que a Esperança a qualquer momento
poderia abandoná-lo
e ele não queria outra vez
correr o risco de ser magoado.
Depois de muito pensar,
decidiu que era hora de recomeçar.
E de mãos dadas com a Esperança,
foi em busca do sonho,
que ainda guardava na lembrança...



Débora Benvenuti