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terça-feira, 13 de junho de 2017

O Espectro



O Pensamento estava confuso com todos os acontecimentos que vinham se acumulando em sua mente e para os quais não havia solução aparente. Pensar se tornara algo muito difícil e doloroso, pois havia um turbilhão de decisões importantes a serem tomadas e isso requeria muito espaço no já tumultuado pensamento. As ideias iam se convertendo em ações, dominadas pelo Espectro da Morte, que se agigantava e possuía cada milímetro do Pensamento, não deixando margem para outra decisão que não fosse ela própria. O Pensamento estava petrificado pelo medo e ao mesmo tempo, permanecia no mesmo lugar, sem coragem de dar um passo sequer em direção aquele pensamento obscuro que aumentava com o passar das horas. E o Espectro ficava ali, a espera de que o Pensamento seguisse os seus passos e o conduzisse para o derradeiro final, tão obscuro quanto ele próprio. Não havia como escapar daquela cilada e apesar dos esforços que o Pensamento fazia, para não se deixar seduzir pelo Espectro, a vontade ia enfraquecendo o Pensamento e ele cada vez ficava mais fascinado pela ideia de sucumbir aquele chamado. Soluçou como uma criança, perdida no emaranhado que se tornara aquele momento de decisão extrema, sem que nenhum motivo aparente fosse manifestado em outras ocasiões. O Espectro permaneceu vigiando o Pensamento, até que em determinado momento, ele pareceu raciocinar e disse não, aquele chamado que vinha das profundezas daquela alma inquieta. Por alguns segundos, o Pensamento permaneceu confuso, diante daquela ideia macabra, que aos poucos foi desaparecendo e sumiu por completo, tão sorrateiramente como havia surgido...




Débora Benvenuti

quinta-feira, 20 de abril de 2017

O Poema e o Psiquiatra




                              Resultado de imagem para psiquiatra  
Os amigos do Poema já haviam percebido que ele não andava se sentindo muito bem. Sempre que alguém lhe perguntava o que  estava  acontecendo, ele respondia - Eu não sei de nada. E não falava nada. Preocupados, os amigos então lhe disseram que procurasse um psiquiatra que sabia de tudo. Então o Poema agendou uma consulta e no dia  marcado, lá estava ele, esperando para ser atendido. Aguardou alguns instantes na sala de espera e logo foi conduzido à sala do psiquiatra. O Poema se acomodou diante do psiquiatra e este procurou deixar o Poema o mais confortável possível. Começou perguntando como o Poema se chamava e ele rapidamente respondeu:
- Eu não sei de nada. Então o psiquiatra foi logo dizendo:
- Eu sei de tudo!
- Sabe mesmo? perguntou o Poema, admirado com tanta sabedoria.
- Sim, respondeu o psiquiatra. Eu sei de tudo.
- Como pode saber de tudo, se eu não sei de nada?
- Bom, por isso o senhor me procurou. Para saber de tudo. Mas vamos começar pelo começo:
- Por que o senhor me procurou? Como posso lhe ajudar?
- Eu não sei de nada, respondeu o Poema. Quem sabe tudo é o senhor. E se sabe tudo, por que quer saber o que eu sei?
- Para que possamos encontrar o que o senhor procura.
- Mas eu não perdi nada, doutor. Eu não sei de nada, nem vi nada. O senhor viu alguma coisa?
- Eu sei de tudo. Mas tudo mesmo!
- E o que o senhor sabe? retrucou o Poema.
- Eu sei de tudo!
- Mas se o senhor sabe de tudo, porque não me conta o que o senhor sabe?
- Isso não posso lhe contar. Um psiquiatra não pode sair por ai contando tudo o que sabe. É contra a ética profissional.
-Doutor, se o senhor sabe tudo e não quer me contar, eu não tenho mais nada a fazer aqui. E saiu repetindo o que já havia dito: Eu não sei de nada...



Débora Benvenuti