MEU LIVRO - EDITORA CORPOS - PORTUGAL

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

A Depressão e a Esperança




A Depressão e a Esperança



A Esperança acordou animada. Calçou os chinelinhos e se levantou da cama. Espreguiçou-se e foi abrir as cortinas do seu quarto. O dia estava lindo. O sol se infiltrava por entre as persianas da janela e desenhava lindas figuras na parede.Tudo parecia perfeito. Depois de se vestir, a Esperança saiu cedo, como sempre fazia. Adorava respirar o ar puro a cada manhã. Isto a fazia sentir-se bem e era muito bom começar o dia assim. Havia uma alameda coberta de folhas secas que mais parecia um tapete e era por lá que a Esperança adorava caminhar. Por onde andava, encontrava os amigos e ia espalhando mensagens de ânimo a cada um deles. Nessa manhã, deparou-se com a sua amiga Depressão, que há muito tempo não encontrava. Ela estava sentada embaixo de uma árvore, absorta, olhando fixamente para um ponto indefinido e não percebeu a Esperança ao seu lado.
- Posso ajudar, amiga Depressão? Sem esperar resposta, a Esperança sentou-se ao lado da Depressão. Recostou-se no tronco da árvore onde a amiga se encontrava e ficou esperando que ela falasse alguma coisa. Como não obteve resposta, pensou em alguma coisa para dizer. Precisava induzir a Depressão a contar o que a afligia tanto, mas o silêncio da amiga começava a preocupá-la.
Depois de alguns minutos em silêncio, a Depressão falou:
- Não consigo pensar em nada que me interesse. Fico horas observando o nada e nada acontece.
- Você já procurou ajuda de um profissional?
- Ninguém pode me ajudar, falou a Depressão, olhando fixamente um ponto que só ela podia ver.
- Às vezes também me sinto assim. Na verdade, acho que todos nós em algum momento nos sentimos assim, sem ânimo para nada. - Mas eu não consigo fazer as mesmas coisas que fazia antes. Sinto-me cansada e não consigo me concentrar em nada. - Pois devia fazer um esforço. Por que não tenta levantar, caminhar ao meu lado, enquanto conversamos?
- Até para caminhar me sinto cansada. Nada que eu comece, consigo terminar. - Pois vamos tentar juntas, disse a Esperança, estendendo a mão para a amiga, para que ela pudesse se levantar. A Depressão aceitou a mão que a amiga lhe oferecia. Levantou-se com algum esforço e se pôs a caminhar ao lado da Esperança. Depois de algum tempo calada, a Depressão percebeu que as coisas não pareciam tão ruins como antes. A Esperança corria alegremente à sua frente, fazendo tantas piruetas que a Depressão acabou achando graça da amiga. Primeiro, foi só um sorriso tímido que aflorou aos seus lábios. Depois, foram sonoras gargalhadas que se podia ouvir a quilômetros dali. As duas riam alegres e despreocupadas. Por um momento, a Depressão esqueceu dos seus problemas. Era tão bom poder conversar, rir de pequenas coisas e não pensar mais em nada. As duas seguiram conversando animadas. Quando se despediram, a Esperança novamente aconselhou a Depressão a procurar um médico e a seguir o tratamento direitinho. Fazendo isso, em pouco tempo ela estaria novamente vendo o mundo com outros olhos.

Débora Benvenuti

A Dúvida



A Dúvida




A Dúvida não conseguia dormir sossegada. Todas as noites acontecia a mesma coisa. Depois das atividades do dia, ela se acomodava no sofá, ligava a tv, escolhia um bom filme e se recostava em uma almofada para relaxar. Mas isso não a deixava sossegada. Ficava sempre na dúvida se não havia esquecido de fazer alguma coisa. E quando isso acontecia,
a Interrogação aparecia e tecia comentários que faziam a Dúvida ficar em dúvida.
- Você não está esquecendo nada, perguntava a Interrogação, só para ver se a Dúvida ficava curiosa.
- De que posso ter-me esquecido? Perguntava a Dúvida, erguendo uma sobrancelha, já pensando no que diria a amiga, ao ver que ela ficava em dúvida.
- Percebi que hoje você não fechou as persianas da janela do quarto...
- Fechei sim ou será que não?
- Está chovendo...vai entrar água pela janela...
- Mas eu tenho certeza de que fechei...ou será que não...?
Lá saia a Dúvida correndo para ver se havia fechado a janela...
Todos os dias ela revisava mentalmente tudo o que havia feito,mas acabava sempre esquecendo alguma coisa. Pensou em algo que pudesse fazer para não precisar mais ficar na dúvida. Depois de muito pensar, encontrou uma solução que acreditou ser razoável. Anotou em uma agenda de bolso as coisas que fazia todos os dias. Sempre que ia sair, verificava tudo cuidadosamente e ia marcando com um “x” tudo o que precisava ser feito. É claro que dava trabalho, mas era só uma questão de hábito. Assim, nunca mais ficaria na dúvida e a Interrogação não mais a importunaria...


Débora Benvenuti