MEU LIVRO - EDITORA CORPOS - PORTUGAL

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

A Eternidade, O Amor e a Saudade






A Saudade e o Amor
diante da Eternidade
foram se encontrar,
para tentar explicar
o que andavam fazendo,
e cada qual ao seu modo
foram se expressando:
- A Saudade disse que havia deixado
muitos corações despedaçados,
enquanto o Amor tentava compor
os caquinhos estilhaçados,
que a Saudade ia deixando pelo caminho.
Quanto mais longe de um coração
se encontrava,
mais a Saudade ia deixando a sua mágoa
e o coração mais apertado ficava,
cada vez que a Saudade passava.
De tanto consolar um coração,
o Amor acabou também ficando apaixonado,
pelo mesmo coração,
que a Saudade havia deixado.
A Saudade, sabendo então
que o coração estava de novo apaixonado,
resolveu voltar e questionar o seu lugar.
O Amor, sabedor de todos os males
que a Saudade havia deixado
nesse coração tão amargurado,
jurou, diante da Eternidade,
que jamais havia deixado
alguém tão só e desesperado.
A Eternidade,
conhecedora de toda a enfermidade
que a Saudade causava,
disse que o Amor era superior
a toda essa crueldade,
causado pela Saudade,
e resolveu que a partir desse momento,
cada vez que um coração se julgasse
aprisionado pela Saudade,
teria o direito de escolher o Amor
que mais afeto despertasse
e deixar a Saudade seguir
a mesma estrada que havia trilhado,
quando abandonou o coração,
já tão gasto e humilhado.
Daquele dia em diante,
o Amor e a Saudade nunca mais
foram vistos habitando um mesmo coração.
Quando a Saudade passava,
o Amor se fingia de cego,
para não ver a Saudade,
diante da Eternidade,
fazer juras de Amor
e enganar o Coração,
que mesmo apaixonado
ainda pensava na Saudade...


Débora Benvenuti

A Confiança e a Suspeita







A Confiança era um ser muito delicado. Aparecia de repente e ia se instalando aos poucos nos lugares mais inesperados.Usava toda a sua inteligência (era dotada de inúmeras facetas) quando queria persuadir alguém a acreditar nela. E para isso não media esforços. Era muito perspicaz e logo percebia os detalhes que a ninguém mais parecia importar. Isso fazia com que estivesse sempre alerta a tudo o que acontecia e aproveitava todas as oportunidades para se infiltrar no mais íntimo dos sentimentos. Depois de estabelecida, baixava e guarda e isto fazia com que se tornasse vulnerável. Aparecia então a Suspeita, que estava sempre a espreita, para fazer com que a Confiança perdesse aquele seu ar arrogante de quem tudo quer e tudo sabe. Era nesse momento que a Suspeita aproveitava para analisar as fraquezas da Confiança. Sem que a Confiança se desse conta, a Suspeita ia analisando cada palavra proferida por ela e ia tentando encaixar as peças que ela,distraidamente, ia deixando pelo caminho. Cada vez que conseguia juntar uma peça, o jogo se tornava mais interessante e a Suspeita ficava mais intrigada com a confiança que a Confiança tinha nela própria. Não era capaz de perceber que estava sob suspeita e assim, cada vez mais, baixava a guarda e sem perceber, acreditando que todos acreditavam nela, ia cedendo terreno para que a Suspeita se infiltrasse e conseguisse juntar as peças do quebra-cabeça, até que a verdadeira face da Confiança aparecesse. Quando a Confiança percebia que ninguém mais acreditava nela, ficava desesperada e desmentia tudo o que a Suspeita falava dela e tentava de todas as maneiras, recuperar o que não podia mais ser recuperado: A Confiança!


Débora Benvenuti