MEU LIVRO - EDITORA CORPOS - PORTUGAL

quarta-feira, 14 de novembro de 2018

A Obsessão e a Crítica





A Obsessão é um ser intolerável. Não suporta a Crítica, mas adora jogar pedras em telhado de vidro. Muitas vezes essas pedras quebram o vidro e quando são revidadas, nunca são toleradas, no mais amplo sentido da palavra. E as palavras às vezes são as Criticas mais sensatas que se possa fazer, mas nunca são aceitas pela Obsessão. A Obsessão é como um touro enfurecido. Abaixa a cabeça e assopra um vento tão forte, que suas narinas chegam a tremer e assim, com toda a fúria, investe no desarmado autor da Crítica, na esperança de reduzi-lo a pó. Quando percebe que suas tentativas são frustradas, fica mais enfurecido e com suas imensas patas, tenta esmagar o adversário. É um salve-se quem puder. Quem fez a Crítica tinha lá as suas razões, o que não se pode dizer da Obsessão. Esta sim é incapaz de enxergar o que está a um palmo do seu nariz. Por isso se diz que um touro enfurecido não tem visão, apenas se deixa levar pelo movimento. E o movimento é o que não falta ao autor da Crítica. O movimento do adversário e o momento propício. Estes dois elementos são a base de quem pretende fazer a Crítica.

 


Débora Benvenuti


A PALAVRA E A ESCRITA


 


A Palavra era soberana. A Escrita era incontestável. Esses dois seres passavam o tempo todo questionando o poder que cada um deles exercia nas pessoas. A Palavra, quando decidia dar o tom exato a que se propunha, não havia quem não se apaixonasse por seus dizeres. A Escrita, por sua vez, se julgava muito mais importante, porque sempre argumentava que as Palavras o vento levava, e a Escrita permanecia para sempre na memória de quem um dia as lia. A Palavra estava certa em suas convicções. Tinha o poder de atrair sempre mais e mais adeptos toda a vez que se fazia ouvir. A Escrita questionava sempre as Palavras que eram ditas. Dizia que muitas vezes quem as ouvia não entendia o seu significado e quando as repassava, não condizia com a verdade. Afinal, quem conta um conto, aumenta um ponto. E não é que isso era verdade? A Escrita então estava coberta de razão. Se alguém duvidasse do que fora dito, lá estava a Escrita, para quem quisesse ler. Com todas as letras! E onde estava a Palavra, nesse momento? Ninguém sabia responder. O vento que por ali passara, já se encarregara de as dissolver. 



Débora Benvenuti


A Disputa


A Disputa era um ser acirrado. Sempre que podia, precisava disputar tudo o que via, porque se sentia um ser inferior, se assim não o fizesse. Nada podia ser superior a ele. Precisava mostrar a todos o quanto estar no topo da lista era importante para ele. E quando isso não acontecia, sentia-se o mais infeliz dos mortais. Reconhecia a sua inferioridade e quanto mais inferior se sentia, mais desejava obter sucesso nas coisas que ele não conhecia. Os dias e os anos se passavam e ele não percebia o quanto seria necessário ele aprender, para se tornar um ser superior. Queria e desejava ser superior, mas não sabia a que queria ser superior. Não havia um objetivo a atingir, apenas precisava esconder o quão insignificante era a sua trajetória. Viver era apenas dar um sentido vago a sua existência tão cheia de emaranhados nebulosos. E seres inúteis acabavam sempre afogados em sua soberba. Falar dos fatos é essencial. Usar as palavras certas é sabedoria. Quem observa do alto, enxerga mais longe.



Débora Benvenuti