MEU LIVRO - EDITORA CORPOS - PORTUGAL

domingo, 2 de maio de 2010

A IMAGINAÇÃO E O RELÓGIO







 


 

 

A imaginação estava muito contente,

porque tinha novas idéias

para por em ação.

Encontrou o relógio

pendurado na parede

e fez a ele essa indagação:

- O que fazes aí parado?

Perguntou a Imaginação

ao seu amigo Relógio.

- Eu não estou parado.

Marco a Linha do Tempo.

- Para que marcar a Linha do Tempo,

se o Tempo não existe?

- É claro que existe,
respondeu o Relógio,

já um tanto indignado.

- E onde está a Linha do Tempo?

Perguntou a Imaginação.

- A Linha não existe.

Ela é só imaginária.

- Se é só imaginária,

isto quer dizer que ela não existe.

Portanto, se ela não existe,

por que não desces

dessa parede e vamos sair por aí,

fazendo algumas estrepolias?

- Se eu não marcar o Tempo,

quem irá marcar?

- Podemos pedir ao Sol e a Lua

que fiquem em prontidão,

enquanto nós dois saímos

em busca de diversão.

O Relógio então desceu,

escorregando pela cordinha do pêndulo

e lá se foi ele,

correndo atrás da Imaginação.

- Para onde vamos?

Perguntou o Relógio.

- Eu não posso correr muito,

tenho uma perna mais curta

que a outra e se correr,

sinto logo dor nas juntas.

- Não se preocupe,

pense apenas em algo que nos ocupe.

Tenho algo em mente,

que poderemos fazer somente,
enquanto penso em algo diferente.

- E o que faremos,

se tudo o que imaginas,

logo o transformas em ações?

- Pois sou muito criativa,

senão não me chamaria Imaginação.

E os dois lá se foram

praticando boas ações.

A primeira coisa em que pensaram,

foi inventar algo que fizesse

o mundo parar de girar.

Assim ninguém nunca mais iria

se atrasar.

Como a tarefa era muito difícil,

pensaram em algo mais prático,

que pudesse ser benéfico

a todos os seres do Universo.

Escreveram versos

e os espalharam por todos os lados,

dizendo que o Tempo

era o Senhor do Universo.

Por isso não percam Tempo,

tentando matar o Tempo,

já que ele não existe.

E se ele não existe,

Que fazes aí ... matando o Tempo...?

 

 

Débora Benvenuti

A ILHA DO AMOR



A Ilha do Amor


Numa ilha deserta,

há muito tempo desabitada,

o Amor, a Felicidade e a Saudade

ali fizeram a sua morada.

O Amor, a procura de um Coração,

o Coração, em busca da Felicidade

e a Felicidade,

tentando esquecer a Saudade.

E os três, assim entusiasmados,

saíram a procura dos seus amados.

O Amor, depois de muito caminhar,

encontrou uma cabana abandonada.

Lá dentro,

um Coração chorava as suas mágoas.

Falava da Saudade que sentia da Felicidade

e achava que não podia viver,

sem um amor de verdade.

Foi a vez da Felicidade dizer o que sentia,

quando se encontrava sozinha

e não sabia que era Felicidade o que sentia.

Quando a Saudade chegava é que descobria

o que era Felicidade...

E a Saudade, então,

já acostumada a ouvir falar de Amor,

essa dor que habita os corações apaixonados,

não se admirou quando ouviu o Amor

falar da Saudade que sentia da Felicidade.

E os três então descobriram

que num só coração,

o Amor,

a Saudade

e a Felicidade

podiam sim,

viver muito bem aconchegados,

mesmo numa ilha isolados,

falariam de Amor,

Saudade e Felicidade...





Débora Benvenuti

sábado, 1 de maio de 2010

A IMAGINAÇÃO E A CURIOSIDADE






 
A Imaginação e a Curiosidade





A imaginação andava muito preocupada.

Sentia-se cansada e não sabia a quem recorrer,

nem mais o que escrever.

Então lembrou-se de sua amiga,

a Curiosidade , que era quem

sempre sabia os problemas resolver.

- Amiga, estou aos seus cuidados,

o que tens para me oferecer?

Perguntou a Imaginação, sem se conter.

Já pensei em consultar um médico,

mas não sei se ele vai me entender.

Preciso renovar meu repertório

e não sei por onde começar,

falou a Imaginação,

pondo-se a pensar...

- Não desistas, tenho um plano

e só me seguir que eu te acompanho

e pelo caminho vou te explicando,

o que devemos fazer,

falou a Curiosidade,

já muito feliz em poder colaborar

e depois a todos contar

o que a Imaginação iria inventar.

- O que tens em mente,

perguntou a Imaginação à Curiosidade,

que corria a sua frente,

sem deixá-la respirar.

- Siga-me e não comente,

se não me perco novamente

e ficamos as duas só a imaginar

o que busco tão contente.

E lá se foram as duas,

conversando amigavelmente.

A Curiosidade seguiu por um

caminho estreito,

levando a Imaginação a pensar,

no que estaria a sua amiga a procurar.

Chegaram a uma cabana escondida,

em meio a uns arbustos,

numa pequena colina,

onde apenas a fumaça que saía pela chaminé,

era visível aquela hora da matina.

A Curiosidade não se continha

e a Imaginação já mais desperta,

começava a imaginar,

quem poderia estar aquela hora

fazendo um café,

já que da chaminé

a fumaça que se erguia,

deixava muito a desejar.

A porta estava entreaberta

e as duas já querendo por ali espionar,

para ver se poderiam descobrir,

quem estava naquela cabana a morar.

Pé- ante- pé, sem fazer nenhum ruído,

as duas foram entrando

e com surpresa ali encontraram

alguém dormindo,

o aroma de café do bule evaporando

e no ar se espalhando.

A Curiosidade não se conteve

e foi logo acordando o gênio do café,

que estivera adormecido.

O coitado, distraído,

mal percebeu que a água do bule havia fervido,

e o café já estava servido.

- Quem são vocês e o que fazem aqui,

perguntou ele, surpreso,

ao ver que havia sido surpreendido

ainda dormindo, vestindo só o abrigo.

Somos a sua Imaginação,

meu querido amigo

e a sua Curiosidade é tanta,

que voltaremos mais vezes para visitá-lo,

mas se prepare,

não queremos mais acordá-lo.

E as duas desapareceram,

contentes com o que encontraram.

A Curiosidade satisfeita por

ter ajudado a Imaginação

a essa pequena estória escrever

e a um bom café tomar para aquecer

e depois adormecer...

 


Débora Benvenuti



A IMAGINAÇÃO E O TRABALHO



A Imaginação e o Trabalho





A Imaginação estava inquieta.

Seu Trabalho era imaginar

e desse trabalho não podia se esquivar.

Se não trabalhasse

nada mais teria o que contar.

Ficou olhando as letrinhas do teclado

e nem uma só palavra conseguia formar.

Pensou em tudo que já imaginara

mas nada a fazia se concentrar.

Quando o Trabalho dava trabalho

ficava difícil trabalhar,

muito menos imaginar,

pensou a Imaginação,

pondo-se a meditar.

Não conseguia entender

porque no Dia do Trabalho

ninguém queria trabalhar.

Quem inventou o Trabalho

será que sabia quanto trabalho

o Trabalho dava?

Talvez não soubesse,

pensou a Imaginação.

Depois que o Trabalho foi inventado,

ninguém viveu descansado.

Quem fica sem Trabalho

fica muito preocupado.

Correr atrás do Trabalho

dá muito mais trabalho

do que o trabalho

que o Trabalho dá.


 

Débora Benvenuti



sexta-feira, 30 de abril de 2010

A MENTIRA E A VERDADE



A Mentira e a Verdade




A Mentira saiu cedo,

mal tinha clareado o dia.

Precisava de um bom motivo

para atrair a Verdade

e torná-la sua amiga.

Sabia que precisava ser esperta,

por que com a astúcia da Verdade,

nenhuma mentira escapava.

Então pensou no caráter da Verdade

e no quanto ela se orgulhava

de nunca ter contado uma mentira.

Sendo assim, tinha que ter muito cuidado,

para fazer uma mentira parecer uma verdade.

Foi aí que se lembrou de algo que estava escondido

numa caixinha dourada,

onde a Verdade guardava toda a sua sinceridade.

Percorreu algumas ruas da cidade,

aquela hora da madrugada,

enquanto todos dormiam

e ninguém estava acordado.

Foi até a casa da Verdade

e retirou do armário a caixinha dourada.

Não se conteve

e a Curiosidade foi maior que a ingenuidade,

pois a Mentira abriu a caixinha

e deixou escapar toda a Verdade.

Quando percebeu que a Verdade havia escapado,

ficou muito preocupada,

agora sim é que estava numa enrascada.

Teria que falar a verdade para não ser desmoralizada.

A Verdade acordou e encontrou a Mentira ao seu lado,

fingindo que não estava mexendo em nada.

A Verdade então foi verificar,

se tudo estava em seu lugar,

então percebeu que várias verdades

haviam escapado

de dentro da caixinha dourada.

A Mentira então descobriu,

que havia caído em uma cilada

e teria que falar a verdade,

mas isso era uma coisa que ela abominava.

Seria a mesma coisa que confessar um erro,

e para isso não estava preparada.

A Verdade disse que queria todas as suas verdades

de novo ali guardadas

e incumbiu a Mentira de resgatar toda a verdade.

Essa foi a única vez,

que a Mentira se encontrou numa encruzilhada:

Teria que contar a verdade,

senão seria desmoralizada.

Saiu então a procura da Verdade

e por onde passava,

ia recolhendo as verdades

e as colocando num saquinho improvisado.

Depois de muito trabalho,

ela voltou mais descansada.

Correr atrás da Verdade

não era coisa a ser desprezada,

dava trabalho, é verdade.

Mas já havia aprendido a lição.

Quanto mais mentiras ela inventasse,

mais teria que encontrar uma verdade,

que a superasse...



Débora Benvenuti