MEU LIVRO - EDITORA CORPOS - PORTUGAL

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sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

Sem asas para voar






Lá do alto do penhasco, a Imaginação observou a paisagem maravilhosa que se descortinava ante seus olhos. Fechou os olhos com força, e os abriu novamente, com medo de estar sonhando. Aquilo não era um sonho, nem mesmo um pesadelo. Era algo que ela própria não sabia como identificar. Havia muito tempo que estivera nesse mesmo lugar e tudo parecia tão diferente agora. O que havia acontecido com ela? Onde estava a coragem que sempre tivera e que a impelia a voar cada vez mais alto? Se estava lá no alto do penhasco, era porque sabia como chegar até lá, mas naquele momento, o que ela mais queria era ter asas para voar. Se lançar no infinito dos seus sonhos e ir aos lugares que ela sempre imaginou que poderia estar. Era um mundo totalmente diferente que ela observava agora. Algo dentro dela adormecera. Nada mais sentia. As horas e os dias deixaram de ter importância e e ela tinha muito medo do desconhecido. Mas o desconhecido sempre existira, talvez ela nunca tivesse percebido. Esses pensamentos não a deixavam um instante qualquer. Ela precisava descobrir o que tanto a inquietava. Será que era o Tempo que a esquecera naquele lugar? Se ela não se importava mais com o Tempo, talvez fosse isso mesmo que estava acontecendo. O Tempo nunca mais passara por ali e a deixara sem nenhuma explicação. Queria falar com o Tempo, saber coisas que ela ainda não entendera, mas nem mesmo ela sabia o que queria perguntar. Precisava dar um mergulho para dentro de si mesma e tentar se encontrar. Quando isso acontecesse, muitas coisa poderiam ser esclarecidas. E foi o que fez. Deitou-se na relva muito fofa que havia ali perto e ficou ouvindo o suave som de um riacho. Foi fechando os olhos lentamente e adormeceu. Quando acordou, percebeu que o Tempo por ali passara, mas ela não pode vê-lo, porque adormecera profundamente...




Débora Benvenuti

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

A Saudade e o Tempo



Por mais que tentasse não pensar, a Imaginação ficava horas a fio fitando o infinito. Tentava buscar alguma lembrança que o Tempo pudesse ter apagado e não conseguia se conformar em ter esquecido alguma coisa. O Tempo muitas vezes passava devagar e era nessas horas que a Imaginação tentava fazer com que o Tempo lhe contasse algum segredo, que tivesse se perdido ao longo caminho.
Haviam lembranças um tanto apagadas, que o Tempo carregava num pergaminho e cada vez que o desenrolava,  mais difícil ficava tentar ler alguma coisa. E isso não era tudo: algumas lembranças eram acontecimentos tão estranhos, que a Imaginação acreditava não ter vivido. Então se punha a pensar, se isso tudo não seria uma brincadeira que o Tempo inventava, para testar a memória da Imaginação. Mas como com o Tempo não se brinca, a Imaginação ficava um tanto aborrecida, por não lembrar de coisas tão importantes e das quais sentia uma enorme saudade, mesmo sendo lembranças que se iam apagando pouco a pouco. Precisar lembrar. Não queria esquecer nada, pois cada vez que se distraia, sentia uma enorme saudade de alguma coisa, mas não conseguia lembrar o que era. Era como se uma neblina fina e densa fosse se acumulando no seu pensamento e a impedisse de saber o motivo de tanta saudade.
E a Saudade aos poucos ia desaparecendo, deixando um vazio enorme, que nem o Tempo, com todos os seus afazeres, era capaz de preencher.


Débora Benvenuti

terça-feira, 1 de abril de 2014

A Esperança, o Coração e o Tempo




A Esperança estava de partida. Habitara durante muito tempo um Coração e por mais que insistisse, a cada dia percebia que o Coração não mais a ouvia. Não gostava de despedidas, por isso deixou o Coração ao amanhecer, enquanto ele ainda dormia. Sabia que estava ido ao encontro do desconhecido, pois estava tão cansada, que qualquer lugar seria melhor de morar, do que aquele velho Coração, que nem sequer mais batia direito e esse descompasso fazia a Esperança ficar desorientada. Às vezes ele batia tão rápido, que a Esperança pensava que ele havia encontrado o que buscara durante toda a vida. Depois, nada mais acontecia, e o Coração então adormecia profundamente, num sono cheio de pesadelos.
A Esperança caminhou durante muito tempo, carregando consigo todas as lembranças dos bons momentos em que habitara o Coração. Cansada demais com o fardo dessas lembranças, encontrou pelo caminho o Tempo, que estava sentado à beira de um lago, de águas muito límpidas e tranqüilas. Percebendo a Esperança se aproximar, notou o pesado fardo que ela carregava. Convidou-a descansar por alguns momentos e ela assim o fez.
O Tempo, conhecedor de todos os males e Senhor de toda a sabedoria, quis conhecer o que continha o fardo que a Esperança carregava. Ela então contou o quanto estava decepcionada com o Coração em que habitava. Contou-lhe os sonhos e os pesadelos que habitavam aquele coração e disse ao Tempo que desistira de fazê-lo acreditar em alguma coisa. O Tempo ouviu com toda a paciência que só ele possuía, os relatos da Esperança e quando ela terminou de falar, disse à ela que voltasse a morar no velho coração, porque era nesse exato momento de sua vida, que o Coração mais precisava de toda a esperança para continuar a viver.


Débora Benvenuti

quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

O Tempo, a Promessa e a Imaginação


O Tempo se preparava para passar, majestoso, como sempre acontecia. Sabia  que muitos  esperavam ansiosos a sua passagem e isto o envaidecia muito. Ele desfilava garboso, com todas as expectativas que sabia que iria causar. Nesse momento, a Imaginação surgia em toda a sua formosura. Nunca era tão solicitada, em outras épocas do ano, como agora, quando o ano acabava por findar. A Promessa então surgia nessa hora e vinha cobrar tantas outras promessas que haviam sido feitas e abandonadas ao longo do caminho. A Imaginação também se cobrava, pois sempre imaginava muito mais do que podia cumprir. E o Tempo era implacável, cada vez que passava. Todos não queriam vê-lo passar? Ele chegava todos os anos e trazia consigo 365 bons motivos  para que as promessas não deixassem de serem cumpridas e mesmo assim, sempre havia alguém que dizia que não tivera tempo, pois o Tempo passava tão depressa, que era impossível  faze-lo parar... Soavam então as doze badaladas da meia-noite e as janelas da vida se abriam para ver o Tempo passar e mais uma vez, mais promessas eram feitas, muitas delas incapazes de serem cumpridas. Então a Imaginação também adormecia, e ficava na esperança de que a Promessa viesse então acordá-la, quando o Tempo passasse novamente na janela e tudo recomeçasse novamente...

Débora Benvenuti

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

O Tempo, a Memória e o Vento






  
Uma leve brisa faz balançar a Memória, que inerte, parece não ter mais vida. O Vento estava sempre a soprar, num esforço inútil de fazer  a Memória recuperar o Tempo perdido. Mas o Tempo  estava sempre muito apressado e cada vez passava mais depressa. A Memória abria a janela de seu pensamento, na esperança de que o Tempo percebesse que ali ainda havia uma luz que não se apagara, apenas tremeluzia fraca e cansada. Muitas vezes o coração da Memória se emocionava com alguma lembrança que o Tempo deixava cair, ao passar distraído pela estrada da vida. Nada mais do que isso. Quanto mais pensava no Tempo, mais a Memória se tornava fraca e cansada. Se pelo menos o Tempo fosse conhecedor de todas as lembranças que habitavam a Memória e que estavam submersas no mais profundo do seu ser, talvez se compadecesse dela e soprasse em seus ouvidos, as canções já esquecidas, que apenas faziam eco em seu pensamento, mas não se faziam ouvir. Com estes tristes pensamentos, a Memória adormeceu e sonhou todos os sonhos que esquecera de sonhar e que o Tempo, na sua pressa, a impedira de realizar.


Débora Benvenuti

sábado, 30 de março de 2013

O Amor e a Paixão






Um dia por acaso,
ouvi esse diálogo
entre o Amor e a Paixão:
- Eu sou o Amor
e por onde eu passo,
vou deixando um rastro
de perfume de flor.
E você...quem é você?
- Eu sou a Paixão
e por um onde eu passo,
vou deixando um rastro
de amargura e de dor
e já te encontrei muitas vezes
entre flores e dores.
 - E que trazes contigo?
Pergunta a Paixão
ao amigo chamado Amor.
- Eu venho de muito longe
e existo desde o princípio
de todas as eras
e assim espero
continuar espalhando
Ternura, Afeto  e  Amor.
- E que trazes você,
em tua bagagem, amiga Paixão?
- Eu trago comigo muitas estórias
quando parto um coração.
Eu fico por perto,
a espera do momento certo,
de me instalar novamente
em mais um coração.
- Pois eu acredito,
que por ser o Amor habite mais tempo,
ilumine os caminhos
de quem confundiu
Amor com Paixão.
Eu faço a incerteza
viver com tristeza
em cada coração.
Isso me faz viver por mais tempo
e não ter que partir,
permaneça unindo
ainda mais os corações.
E os dois continuaram
caminhando lado a lado,
cada qual acreditando
viver mais tempo
no coração solitário
de quem vive buscando o Amor...


Débora Benvenuti

sábado, 30 de julho de 2011

O Tempo e o Passatempo



O Tempo e o Passatempo


O Passatempo ficava sempre à janela, esperando o Tempo passar e sempre que o Tempo por ali passava, estava tão apressado que nunca conseguia um tempo para passar o tempo, com o seu amigo, Passatempo. Todos os dias, na hora habitual ( o Tempo nunca se atrasava), lá vinha ele correndo sem mais demora. Tinha uma pressa enorme de passar, embora muitas vezes, poucas pessoas o vissem passar. Ficavam a espera dele e muitas vezes estavam tão distraídas, que ele passava sem ser visto. Até o Passatempo, que estava sempre procurando algo para se distrair, acabava não percebendo o Tempo passar. Um dia, o Tempo passou na janela e percebeu que o Passatempo não era mais o mesmo. Havia envelhecido de tanto esperar o Tempo passar. Condoído por ver o amigo tão decaído, resolver parar um instante para conversar:
- Meu amigo Passatempo, que tens feito?
- Só fico passando o tempo...
- Então deves ter muitas coisas para contar, disse o Tempo.
- Pois fico tão envolvido procurando algo para fazer, que mal te vejo passar...
- E eu sempre tão apressado, mal tenho tempo para parar.
- Como sei que estás sempre apressado, nunca te convido para passares um tempo comigo...
- Desde que sou Tempo, nem tempo mais tenho para comigo. As pessoas sempre estão correndo atrás de mim e como sou muito solicitado, estou sempre apressado.
- A mim também me buscam, quando não sabem mais o que fazer, enquanto te esperam passar...
- Muitos dizem que eu passo rápido demais, embora outros não saibam o que fazer comigo...
- Eu sou quem mais entende disso tudo, já que fico a maior parte do tempo procurando algo para fazer...
- E como Passatempo, pouco tempo tens para me ver passar...
- Só percebo que já passastes, quando me olho ao espelho...Então percebo que já passastes há muito tempo...só eu não te vi passar, tão ocupado estava em passar o tempo...

Débora Benvenuti

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

A TRAVESSIA



A Travessia



Em uma ilha deserta, viviam quatro amigos que esperavam há muito tempo serem resgatados. A Esperança era responsável por manter a todos unidos, sem jamais deixar que se entregassem ao desânimo. O Amor se preocupava em fazer com que todos fossem amáveis uns com os outros e a Felicidade estava sempre presente nestes momentos. Procurava iluminar as feições de cada um, para que todos pudessem ver uns aos outros como se fosse um espelho. O Tempo era amigo e conselheiro. Ficava horas fitando o horizonte, para ver se surgia alguma embarcação, mesmo quando todos dormiam. E assim os dias iam se prolongando até se transformarem em anos. Certo dia apareceu na ilha uma velha embarcação, conduzida por um homem de barba grisalha e olhar bondoso. Os amigos ficaram eufóricos,imaginando que finalmente poderiam voltar para casa. A Esperança se sentiu renascer. Perguntou ao barqueiro se podia fazer a travessia levando todos os amigos com ela.
- Não, respondeu o barqueiro. Só posso levar comigo apenas um dos seus amigos.
- E porque não podes levar a todos?
- Porque há o risco de naufragarmos.
- Mas a embarcação me parece segura,respondeu a Esperança, um tanto desapontada.
- Pode até parecer segura, mas o casco está trincado e já começa a fazer água.
A Felicidade saltitava entusiasmada, imaginando que talvez ela pudesse ser a escolhida.
O Amor se aproximou cauteloso e sugeriu que fizessem uma análise da situação,para ver quem estaria em melhores condições de partir da ilha em busca de ajuda.
Talvez a Esperança fosse a escolhida, mas depois de muito pensarem,chegaram à conclusão que não poderiam ficar sem ela. O segundo indicado foi o Amor. Mas talvez o Amor fizesse falta. Todos precisariam dele para manter a união dos que iriam ficar na ilha. Então pensaram que a Felicidade pudesse ser a mais indicada para realizar essa tarefa. Mas como poderiam ficar sem a Felicidade para lhes fazer companhia? Era ela que fazia com que todos sorrissem, apesar das dificuldades que encontravam. Restava apenas o Tempo. Como não haviam pensado nisso? Só o Tempo seria capaz de ir e vir, sem perder tempo. E apesar de ser o mais velho dos quatro amigos, ainda podia passar despercebido, sem que ninguém desse por sua falta. E assim foi feito. O Tempo fez a travessia com o barqueiro e desembarcou no Futuro,que ficou encarregado de voltar ao Passado e resgatar os três amigos que ficaram perdidos no tempo,esperando que o Tempo voltasse atrás e os resgatasse...Mas será que o Tempo voltaria para buscá-los?
A Esperança pensava que sim...

Débora Benvenuti

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

O TEMPO,A ETERNIDADE E O AMOR







O Amor estava perdido no tempo
e quanto mais o Tempo passava,
mais o Amor se sentia envelhecido.
Sabia que estava envelhecendo
e não entendia
o que poderia estar acontecendo.
Aquele sentimento que existia
e que no princípio parecia
que nunca terminaria,
não era mais o amor
que antes sentia.
Algo havia mudado
e transformado o Amor
em algo não desejado.
A chama que ardia
e que tantas fagulhas erguia,
agora eram cinzas
que o Amor escondia,
com medo de aceitar
pensar no que acontecia.
Preferia acreditar que era amor,
esse sentimento que pensava
que ainda existia.
Mas quanto mais pensava,
mais percebia
que era um erro
que só ele conhecia.
E era chegado o momento
de se encontrar com a Eternidade,
dizer o quanto havia mudado
desde que se confessara apaixonado.
Mas o Tempo,
que de tudo sabia,
entendia o que o Amor sentia.
Quanto mais o Amor insistia
em dizer que era amor
o que ainda sentia,
o Tempo o desmentia,
dizendo que era outro sentimento
que o mantinha todos os dias.
E assim, diante da Eternidade,
o Amor precisou usar de toda
a sua sinceridade
e confessar que o amor,
não era mais Amor,
mas sim uma grande Amizade...



Débora Benvenuti

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

NO TÚNEL DO TEMPO



No Túnel do Tempo





O silêncio escorrega

no túnel vazio da tua ausência.

As palavras despem-se

do sentido que as cobrem

e vestem-se de longos momentos

de agonia.

Já não ouço mais nem um som.

O vazio aumenta.

O vácuo engole voraz

a tua imagem

e o meu pensamento desfalece,

e audaz se desfaz,

na poeira do tempo

que o contempla.

Quero gritar,

mas nenhum som

se dispõe a me escutar.

As palavras se dispersam

e se perdem num emaranhado

de teias invisíveis.

Não vejo mais sentido

em nada do que eu digo.

Nem com frases mais eu consigo

descrever o que eu sinto.

O tempo corroeu o meu eu.

Desfez as marcas incrustadas

na saudade que grita

e agoniza na calçada.



Débora Benvenuti

quarta-feira, 2 de junho de 2010

O TEMPO E O VENTO




O Tempo e o Vento

 

O Vento saiu de casa

assoviando alegre e contente.

Há muito não se sentia assim,

leve, sereno, feliz..

Passeava pela praia,

quando encontrou o Tempo,

se lamentando, contrafeito.

Por mais que se esforçasse,

sempre alguém encontrava

algum defeito.

Então ele soluçava

e algumas gotas do céu lançava.

Se estava quente ou se

estava frio,

alguém sempre reclamava.

E falavam que o Tempo virara.

Mas não terminavam a frase

e isso o incomodava.

O Vento então contava

por tudo que passara:

- Se soprava bem de leve

o chamavam de brisa fresca.

Ele então se enfurecia

e soprava com vontade.

Já erguera muitas saias

de moças encabuladas,

que ficavam ruborizadas

com essas coisas safadas,

que o Vento aprontava.

Quando isso acontecia,

o Vento se enfurecia,

soprava com toda a força,

que a todos espantava.

Muitos se escondiam

quando ele se aproximava.

Então o chamavam

por qualquer nome de mulher

e isso era um vexame

que ele não podia suportar.

Os dois se calaram

e pensaram no que fazer.

O Tempo resolveu se recolher

e logo escureceu.

O Vento se esqueceu

de todos os nomes que recebeu.

Mas prometeu se controlar,

se parassem de lhe chamar

de Brisa Fresca e de outros

nomes que preferia nem lembrar...



Débora Benvenuti