MEU LIVRO - EDITORA CORPOS - PORTUGAL

terça-feira, 29 de março de 2022

ENCONTRO COM A SOLIDÃO

 


A Solidão era um ser desprezível. Seu aspecto era nebuloso e suas asas negras eram imensas e desajeitadas. Sabedora de seu aspecto não muito agradável, esgueirava-se na noite escura a procura de um coração solitário, onde pudesse se abrigar. Surgia sorrateiramente, para que ninguém percebesse a sua presença indesejada e ficava à espreita, na soleira da janela, esperando o momento oportuno para se instalar. Mesmo sendo Solidão, mal suportava a sua própria presença. Sabia que a qualquer momento, um coração distraído abriria a sua janelinha, na esperança de ver o Amor passar e ela então surgiria, disfarçada, usando de toda a sua lábia para conquistar esse coração e fazer ali a sua morada. Não demorou muito tempo e ela viu o Coração aparecer à janela. Aproximou-se devagar, para que o Coração não percebesse o seu disfarce (ela era ardilosa e se transformava rapidamente num ser qualquer, inclusive o Amor) e usando de palavras macias e delicadas, dirigiu-se ao Coração, usando estas palavras:

- Estava a sua espera...

- Quem és tu, perguntou o Coração, estranhando o fato de encontrar alguém ali, naquela hora da noite.

- Sou tudo o que quiseres que eu seja, respondeu a Solidão, usando de toda a sua artimanha.

- És o Amor? Perguntou o Coração.

- Sou mais do que isso. Posso ser a sua companhia sempre que desejar.

- Eu preciso encontrar o Amor. Abro a janela todas as noites, mas não o tenho visto passar.

- Pois então, convide-me a entrar e depois feche a janela. Assim estaremos mais à vontade para conversar.

- Será que posso confiar em você? Perguntou o Coração, um tanto receoso.

- É claro que podes confiar em mim. Eu vim para ficar...

O Coração distraído deixou a Solidão entrar e só depois de muito tempo, percebeu que havia sido enganado. E a Solidão, como prometera, se instalou naquele coração e fez ali a sua morada...


Débora Benvenuti

terça-feira, 7 de dezembro de 2021

CORAÇÃO SONHADOR

 





A Imaginação viveu tanto tempo sem amor

que nunca imaginou que encontraria

Um Coração Sonhador.

Percorrera longos caminhos, sempre sozinha,

e por mais que procurasse,

seu coração era um eterno sofredor.

A dor que sentia era algo que a oprimia

e não a deixava viver como queria.

O Coração Sonhador era muito namorador

e não se contentava em ter só um amor.

Fazia versos e declarava seus sentimentos

e assim se afirmava como um galanteador.

Mas como quem ama deseja ser amada

isto se tornava um fato desanimador.

E o tal Coração Sonhador,

tinha muita imaginação.

Quanto mais juras de amor fazia,

Mais deixava a Imaginação

com a alma vazia.

A Imaginação sabia que os versos que ele fazia

não eram escritos só para ela,

eram só fantasias.

E ele esperava por uma declaração,

pois acreditava que seus versos,

haviam conquistado a Imaginação.

Houve um tempo em que os dois até acreditaram

que poderiam viver um grande amor.

Mas como a Imaginação era muito esperta,

logo descobriu que o Coração Sonhador,

Era tudo, menos o seu amor.

 

  

Débora Benvenuti


domingo, 5 de dezembro de 2021

A ILUSÃO E O AMOR





A Ilusão andava desmotivada
e em ninguém mais acreditava.
Muitas vezes fora enganada
e isto a mantinha sempre afastada
de qualquer outro sentimento
que dela quisesse se aproximar.
Acreditou no Amor,
quando ele dela se aproximou.
Mas por mais que o Amor demonstrasse
todas as suas intenções,
nada era suficiente para convencer a Ilusão.
O Amor era um sentimento que ela julgava
que nunca mais iria sentir,
e sendo Ilusão, não queria mais complicação.
Depois de um certo tempo,
o Amor sempre ia embora,
deixando aquela sensação de vazio
que nunca mais seria preenchido.
E viver de ilusão, a Ilusão não mais queria.
Depois de se ver refletida no espelho,
a Ilusão percebeu o quanto estivera iludida
Nem ela mesma se reconhecia,
na imagem que o espelho refletia.
Aquilo tudo que ela via era só a ilusão,
pedindo a sua atenção.


Débora Benvenuti

sexta-feira, 8 de outubro de 2021

O ENTREGADOR DE SONHOS E O SONO

 

 

Mais uma vez anoitece

e como sempre acontece,

lá vem o Entregador de Sonhos,

depois que todos adormecem.

Nessa noite,

ainda desperto,

um Coração espera

que o Sono se aproxime,

para pedir a ele que fique alerta,

espere o Entregador de Sonhos

e diga a ele que não esqueça

de deixar o sonho que ele mereça.

Que seja muito belo

e que realmente aconteça.

Pelo vão da porta entreaberta,

o Sono entra de mansinho.

Toca as pálpebras do Coração,

e ele vai caindo num torpor que o faz flutuar

e sem mesmo perceber,

acaba por adormecer.

É nessa hora que o Entregador de Sonhos se aproxima,

sempre na mesma rotina

e vai distribuindo os sonhos a quem ele mais estima.

O Sono, como prometera ao Coração,

ficara de plantão

e quando o Entregador de Sonhos apareceu,

pediu a ele para escolher um sonho,

que fizesse o Coração se enternecer.

Pudesse sonhar enquanto dormisse

e se realizasse após o amanhecer.

O Sono desenrolou o Sonho

e o colocou no travesseiro

onde o Coração adormecera.

Era um sonho cor de rosa

e o Coração sonhou,

como nunca antes sonhara.

Encontrou o seu amor

e dele nunca mais se separou.

 

Débora Benvenuti


sexta-feira, 10 de setembro de 2021

A Onça Pintada, o Gavião e o Caçador

 


 

 

O Gavião havia feito um acordo com a Onça Pintada e estava desconfiado de que ela o estava enganando. Resolveu marcar um encontro com a Onça Pintada e no dia combinado, o Gavião, muito esperto, resolveu levar o Caçador com ele, para evitar possíveis desavenças. Chegando ao local combinado, o Gavião e o Caçador foram convidados a aguardar um momento, até que pudessem ser atendidos. A Onça pintada apareceu minutos depois e convidou os dois amigos a seguirem-na. O Gavião se acomodou no toco de um galho, pois estava com uma asa ferida e não podia voar. A Onça Pintada se dirigiu ao Gavião e perguntou-lhe o seu nome e logo após, dirigiu-se ao Caçador e perguntou qual o motivo dele estar ali. O Caçador então respondeu que o Gavião estava ferido e precisava de quem o protegesse. A Onça pintada não acreditou muito no Caçador e perguntou a ele se possuía alguma procuração para defender o Gavião, ao que o Caçador respondeu: procuração pública não tenho, mas a acompanho para resolver os seus problemas. A Onça Pintada não gostou muito da explicação e respondeu: se o senhor não tem procuração para representá-la, nem deveria estar aqui. Está cometendo um crime. Vou pedir ao senhor que se retire. O Caçador então respondeu: Eu não vou me retirar. Vim aqui acompanhar o Gavião e daqui não saio. A Onça Pintada começou a ficar nervosa, pois o Gavião queria ver como andavam as negociações e como ele não tinha nada a apresentar e com medo do Caçador, se pôs a gritar: Polícia,chamem a Polícia. Polícia. Polícia e gritava desesperada, tentando ganhar tempo. E dizia ao Caçador: Vá embora daqui. Vá embora daqui. E quanto ao Gavião,só retorne aqui com o seu advogado. O Gavião saiu arrastando a asa quebrada e desapareceu com o Caçador, sem entender muito o que estava acontecendo. O Caçador então se dirigiu a um amigo, que tinha contatos com a TV Animal e pediu ajuda. Logo ficou acertado que o Gavião poderia retornar acompanhado do advogado. Alguns dias depois, lá se foi o Gavião acompanhado do seu advogado,o SR Corujão. Os dois foram recebidos pelo chefe do escritório, outra Onça Pintada com jeito de ser o maioral ali. Essa outra Onça Pintada, andou de lá para cá e com o peito estufado se apresentou: Eu sou o SOLUCIONADOR. Resolvo qualquer problema e disse, depois de muita conversa fiada e sem nenhum documento para apresentar, que ele mesmo resolveria a situação. Passado alguns dias, o Gavião resolveu entrar em contato novamente com o SOLUCIONADOR, para saber se havia resolvido o caso, mas para seu espanto, ficou sabendo que a tal Onça Pintada, ficou com tanto medo do advogado do Gavião que saiu correndo pela floresta e pelo caminho foi derrubando todas as pintas e só depois se ficou sabendo que a tal Onça Pintada não passava de um gatinho sem moral nenhuma.

 


Débora Benvenuti


quarta-feira, 28 de novembro de 2018

O Ponto Final e a Criatividade




O Ponto deixou de ser criativo no momento que se tornou ponto. A partir daquele momento, o Ponto chegou a conclusão de que nada mais havia a ser dito.Era o Ponto final. Mas Ponto final para que...?Ficava a interrogação. Mas depois do ponto, para que servia a interrogação? Esta era uma pergunta que a Criatividade não poderia deixar de se perguntar. Afinal, criar era algo que a Criatividade sabia fazer muito bem. E como sabia. Criava situações muitas vezes até cômicas e deixava o Ponto sem argumentos. Então ele se achava superior à Criatividade? Se assim pensava, estava muito enganado. Qualquer coisa era motivo para a Criatividade dar asas à Imaginação. Criar era algo tão simples quanto um estalar de dedos e para muitos, tão complicado que só sobravam risos e mais risos, a cada ponto final. E não era só um ponto. Havia mais dois pontos e logo depois, mais três pontos. Mas o que o autor dos pontos queria dizer com isso?




Débora Benvenuti

quinta-feira, 15 de novembro de 2018

O Gigante Adormecido



Em um Reino distante vivia um Gigante que permaneceu num sono profundo por mais de 13 anos. Ninguém se atrevia a acordá-lo, porque todo o Gigante quando acorda, se torna muito maior do que sua aparência possa aparentar. Foram anos sombrios, em que os súditos do Reino permaneciam na mais obscura miséria e ignorância. Há quem afirme que muitos sofreram uma lavagem cerebral, tanto nas classes mais humildes até aqueles que tinham algum esclarecimento. Os que nada tinham, continuavam na ignorância, mas aqueles que detinham o conhecimento, se aproveitavam disso para acumular fortunas e saquear o castelo. Aos poucos, os súditos do Reino foram se dando conta que era hora de dar um basta em tudo. Suas armas eram as suas palavras e com elas foram reunindo o maior número de pessoas que puderam alcançar. Ninguém imaginava que a união dessa minoria se tornaria tão grande a ponto de derrubar o opressor. A luta estava apenas começando. Aos poucos, todos foram se mobilizando e se comunicando pelas redes sociais. Era hora de o Gigante acordar.  Quando acordou, ninguém mais conseguiu deter o Gigante, que a cada dia foi massacrando o adversário até a sua derrota final. Finalmente, as correntes se romperam e o Gigante assumiu o que era seu, por direito.

Débora Benvenuti