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quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

A Confiança e a Suspeita







A Confiança era um ser muito delicado. Aparecia de repente e ia se instalando aos poucos nos lugares mais inesperados.Usava toda a sua inteligência (era dotada de inúmeras facetas) quando queria persuadir alguém a acreditar nela. E para isso não media esforços. Era muito perspicaz e logo percebia os detalhes que a ninguém mais parecia importar. Isso fazia com que estivesse sempre alerta a tudo o que acontecia e aproveitava todas as oportunidades para se infiltrar no mais íntimo dos sentimentos. Depois de estabelecida, baixava e guarda e isto fazia com que se tornasse vulnerável. Aparecia então a Suspeita, que estava sempre a espreita, para fazer com que a Confiança perdesse aquele seu ar arrogante de quem tudo quer e tudo sabe. Era nesse momento que a Suspeita aproveitava para analisar as fraquezas da Confiança. Sem que a Confiança se desse conta, a Suspeita ia analisando cada palavra proferida por ela e ia tentando encaixar as peças que ela,distraidamente, ia deixando pelo caminho. Cada vez que conseguia juntar uma peça, o jogo se tornava mais interessante e a Suspeita ficava mais intrigada com a confiança que a Confiança tinha nela própria. Não era capaz de perceber que estava sob suspeita e assim, cada vez mais, baixava a guarda e sem perceber, acreditando que todos acreditavam nela, ia cedendo terreno para que a Suspeita se infiltrasse e conseguisse juntar as peças do quebra-cabeça, até que a verdadeira face da Confiança aparecesse. Quando a Confiança percebia que ninguém mais acreditava nela, ficava desesperada e desmentia tudo o que a Suspeita falava dela e tentava de todas as maneiras, recuperar o que não podia mais ser recuperado: A Confiança!


Débora Benvenuti

domingo, 24 de fevereiro de 2013

A Dúvida e a Curiosidade




A Dúvida e a Curiosidade



A Dúvida caminhava pela estrada

e trazia consigo um pesado fardo.

De vez em quando pensava em desistir,

mas corria o risco de não mais prosseguir

e abandonar para sempre,

o que estava a carregar.

Pensava às vezes se desfazer

um pouco do fardo que carregava,

mas não se atrevia sequer a abrir o saco,

que já cansada,

pela estrada arrastava.

Por onde passava,

encontrava sempre a Curiosidade,

que a espreitava,

em cada curva da estrada.

E quanto mais andava,

mais a Dúvida se martirizava.

Queria ter uma certeza,

uma apenas e já se daria por satisfeita.

Mas por outro lado, tinha medo,

de espiar dentro do saco,

que pesava a cada passo que dava.

E ela assim continuava,

confiando na certeza,

de que haveria um momento

em que não teria mais dúvidas.

 Quando a Curiosidade novamente a encontrasse,

se desfaria do  fardo,

que não mais conseguia carregar.

E assim, depois de muito pensar

e com os pezinhos doloridos de tanto andar,

encontrou a Curiosidade a lhe esperar.

Não teve mais argumentos,

para a Curiosidade enganar.

 Colocou o pesado fardo no chão,

devagar, sem nada falar.

A Curiosidade saltitava

e mal conseguia se conter,

querendo saber

o que a Dúvida tinha a esconder.

Então, lentamente,

a Dúvida se desfez do fardo.

De dentro dele,

como por encanto,

surgiu a  Esperança,

que deixou a Dúvida muda de espanto,

por que não sabia que o fardo

que pesava tanto,

se tornara tão leve,

depois que deixara a Curiosidade

espiar por um momento e

pôr fim ao seu tormento...



Débora Benvenuti

terça-feira, 12 de junho de 2012

O Sentimento e a Emoção





O Sentimento divagava enquanto
procurava uma explicação,
que fosse muito convincente,
para falar a um Coração.
Precisava fazer uma declaração
e não sabia como exprimir
essa sensação.
A Emoção o transformava
e isso o deixava sem muita ação.
Não podia expressar mais
do que pensava,
isto o faria criar outras expectativas
e essa não era a sua intenção.
Muitas vezes a Emoção o dominava
e ele não conseguia
demonstrar sua afeição.
Então esperaria a ocasião oportuna
para falar ao Coração.
Diria com sinceridade,
palavras carinhosas,
para não ferir a sensibilidade
nem causar comoção.
Com muita emoção,
com os sentimentos latentes
martelando a sua mente,
confessou que era somente
amizade o que sentia.
Não era amor nem outro sentimento,
isso ficava evidente.
O Sentimento,sorridente,
enfim ficou contente:
Demonstrou seus sentimentos,
com Emoção,sem constrangimentos.


Débora Benvenuti

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Ao som de um Violino




Ao som de um Violino


A Imaginação rodopiava alegremente
ao som de um violino,
que chorava melodias de amor,
ao cair da noite.
A atmosfera romântica
traduzia os sentimentos,
que esvoaçavam pelo ar
feito folhas levadas pelo vento.
E ela sentia-se inebriante
com a felicidade que a envolvia
como um manto
e deixava-se acalentar docemente,
ouvindo aquele som
que a elevava transbordante.
E o pensamento esvoaçante
a conduzia por terras distantes,
onde o amor fizera o seu ninho
e a conduzia, hesitante.
Tinha medo de acordar
e naquele instante
não mais lembrar
desse momento de euforia,
que amava tanto.
O som se extinguia lentamente...
Chorava a melodia
que não queria se desfazer da noite,
que se prolongava...fria.

Débora Benvenuti

domingo, 10 de junho de 2012

O Beijo




O Beijo



O Beijo acordou curioso.
Há muito tempo queria descobrir
como seria o Beijo
em outros países.
Queria conhecer todas as línguas,
mas era pouco estudado.
Então percebeu
que para beijar em Português,
precisaria conhecer um Fado.
Em Francês,
precisaria ser mais versado.
Mon baiser, diria ele
com a língua toda enrolada...
E para beijar um Inglês
teria que falar assobiado.
Kiss, kiss, kiss.
Diria ele todo atrapalhado.
E quanto mais indignado
ficasse com essas palavras
mais interessado ele ficava
em beijar em outras línguas.
E se fosse em Holandês,
aí ficaria complicado.
Kus,kus,kus,
Diria ele meio envergonhado.
O Alemão,
era ainda mais complicado.
Küssen, teria que falar,
mas se sentiria desbocado.
Por que será que um beijo,
teria que ser ter
uma grafia com tanto significado?
Em Galês,
Beijar seria assim:
Cusan, diria o beijo
ainda um tanto desconfiado.
Ficou então muito preocupado
e resolveu que dar um beijo
era coisa para ser pensado...

Débora Benvenuti

terça-feira, 1 de maio de 2012

A Imaginação e o Trabalho


 Imaginação e o Trabalho




A Imaginação estava inquieta.
Seu trabalho era imaginar
e desse trabalho não podia se esquivar.
Se não trabalhasse
nada mais teria o que contar.
Ficou olhando as letrinhas do teclado
e nem uma só palavra conseguia formar.
Pensou em tudo que já imaginara,
mas nada a fazia se concentrar.
Quando o trabalho dava trabalho
ficava difícil trabalhar,
muito menos imaginar,
pensou a Imaginação,
pondo-se a meditar.
Não conseguia entender
porque no Dia do Trabalho
ninguém queria trabalhar.
Quem inventou o Trabalho,
será que sabia quanto Trabalho
o trabalho dava?
Talvez não soubesse,
pensou a Imaginação.
Depois que o Trabalho foi inventado,
ninguém viveu descansado.
Quem fica sem Trabalho
fica muito preocupado.
Correr atrás do Trabalho
dá muito mais trabalho
do que o Trabalho
que o trabalho dá.


Débora Benvenuti

sábado, 28 de abril de 2012

Vendem-se Sonhos



Vendem-se Sonhos


Cansei de guardar comigo
tantos sonhos antigos.
Eu os mantinha assim guardados,
muitos deles separados,
com rótulos coloridos.
Alguns Sonhos Eróticos,
que jamais foram vividos,
nem sequer exibidos.
Por isso o valor de mercado
é muito valorizado e
deve estar sendo cobiçado
por algum colecionador de
Sonhos não Sonhados.
Se você estiver interessado,
em ver um destes sonhos realizado,
entre em contado comigo.
Envie e-mail, mensagem ou torpedo
                         e não tenha medo de ser enganado.
O sonho será enviado
para o endereço indicado.
Só tem um problema
que precisa ficar esclarecido:
O Sonho só poderá ser Sonhado
com a dona deste anúncio,
que deverá ser acompanhado
por um belo champagne, gelado.

Débora Benvenuti

sábado, 7 de abril de 2012

Outono das Ilusões


Outono das Ilusões

Ilusão,
uma imagem,
uma miragem
ou apenas Solidão?
Sentimentos existem
como folhas de outono,
algumas resistem,
outras caiem inertes pelo chão.
E aquela folha que já viu
tantos outonos chegarem,
como estarão nesta estação?
Será que ainda resistem ao tempo
ou o tempo a tornou uma miragem da ilusão?
Outono frio,
Gelado,
Sombrio.
E a folha acredita
que ainda existem sonhos que vem e vão,
como uma noite de verão.
Ilusão,
Miragem,
Solidão.



Débora Benvenuti

domingo, 1 de abril de 2012

A Sombra e a Solidão



A Sombra e a Solidão



A Solidão esgueirava-se pela estrada
e procurava um lugar onde pudesse
se abrigar,antes do escurecer.
Percebia que estava sendo seguida,
mas toda a vez que olhava para trás,
não via ninguém com quem conversar.
Precisava desabafar,
mas nem isso conseguia,
por que ninguém a queria escutar.
Seus pezinhos doloridos
estavam cansados de tanto andar.
A luz do luar fazia a imagem
da Solidão aumentar
e ela percebeu alguém ao seu lado
a soluçar.
A Sombra saiu da escuridão
e a seu lado foi se postar.
Era imensa, gigantesca
e aquela hora da noite,
parecia ainda mais sinistra.
A Solidão sentiu a presença da Sombra
que não parava de se lamentar.
- Estou cansada, estou confusa.
Mal podia a Sombra estas palavras formular,
antes que se pusesse novamente a soluçar.
Por onde eu ando,continuou a Sombra,
fico num canto esquecida,
quieta,calada,muitas vezes sem me mexer
e quem eu sigo nem percebe
a minha presença ao entardecer.
Quando a luz da lua reflete os meus passos,
muitas vezes eu assusto quem eu sigo
e ninguém percebe que eu sou apenas
uma Sombra amiga.
- Pois eu, disse a Solidão,
sofro muito mais discriminação.
Ninguém quer a minha companhia,
vivo só, na escuridão.
A Sombra então se aproximou da Solidão
e a envolveu com seus braços enormes.
 Ficaram as duas quietas, caladas,
observando um raio de luar
iluminar seus corações.

Débora Benvenuti