MEU LIVRO - EDITORA CORPOS - PORTUGAL

sábado, 3 de novembro de 2018

O Blog Falante e o Informante




Quando anoitecia e todos dormiam,
era hora em que muitas coisas aconteciam.
Sem saber que era observado,
O Plágio aparecia
e muitos poemas do Blog,
desapareciam.
No outro dia,
em outra página
eles eram postados
por alguém que dizia
que não sabia
de onde eles eram clonados.
O Blog sempre avisava
ao visitante mal informado,
que os poemas ali postados
eram todos assinados.
Mesmo assim,
eles eram copiados.
E quem os copiava sempre dizia
que jamais seriam identificados,
Ao que o Blog respondia...
Vai nessa...Vai nessa...
Cuidado que estás sendo
Observada...
Clonar o que não te pertence
Pode ser muito complicado...




Débora Benvenuti

O Poema e a Ilusão




O Poema estava apaixonado

pela Ilusão.

Escrevia versos e tentava

conquistar seu coração.

Com palavras carinhosas,

fazia todo o dia

uma declaração.

A Ilusão não queria

demonstrar a sua paixão.

Acreditava que tudo

não passava de uma mera confusão.

Por ser Ilusão,

muito cedo desapareceria

e causaria uma enorme decepção,

a esse coração que dizia amá-la

e não conseguiria viver

com a rejeição.

Sabia muito bem que sofreria,

e sabendo da sua triste condição,

tão logo percebesse o engano,

partiria sem rumo e sem direção.

O Poema, percebendo a sua hesitação,

pediu a Ilusão que convivesse

para sempre no seu coração.

Casariam sem muita badalação,

sem festa e sem convidados,

para não serem incomodados,

nesta nova fase

que iniciavam com tanta convicção.

Para não serem enganados,

selaram assim essa união:

O Poema viveria

e em seus versos escreveria,

tudo o que sentia,

mesmo sabendo que o que sentia

Era a mais pura ilusão.

 

 

 

 

Débora Benvenuti

domingo, 28 de outubro de 2018

A Palavra, o Medo e a Coragem









A Palavra tinha plena consciência do seu poder. Era sábia e muito inteligente. Por esse motivo muitas vezes exagerava em suas argumentações. Quando começava a falar, muitas vezes não tinha noção do alcance de tudo o que dizia. Dependendo da entonação de voz que usava, era como se de repente, um gigante adormecido se materializasse. Seu aspecto era assustador. Seus passos eram pesados e retumbavam a cada passo que dava. Quando sua figura imponente se aproximava, o Medo se escondia o mais que podia, temendo que o gigante pudesse se aproximar. A sombra crescia a medida que o gigante andava e quando ele falava, o vozeirão fazia as paredes trepidarem e se alguém ousasse retrucar qualquer coisa, ele amassava e reduzia a pó, com uma única exclamação. E todo o dia, os mesmos fatos se repetiam. O Medo se escondia quando ouvia os passos do gigante se aproximar. Vendo que o Medo não tinha quem o defendesse, a Coragem, que o observava calada, resolveu interceder a seu favor, não sem antes tentar argumentar:
- Não se deixe intimidar. Você não pode aceitar tudo o que o gigante te diz e ficar calado.
- Mas eu tenho medo, disse o Medo, já tremendo, sem poder se controlar.
- Pois é esse medo que o torna inferior e a Palavra sabe disso, por isso tem todo o poder sobre você!
- E o que posso fazer, perguntou o Medo, já mais animado.
- Você deve observar a Palavra, quando ela falar qualquer coisa que o entristeça. Em algum momento ela vai deixar transparecer alguma coisa que você possa usar contra ela, respondeu a Coragem, insuflando o peito, cheia de conhecimento de causa.
- E se não der certo? Perguntou o Medo, voltando a tremer, mas agora já mais animado.
- Pode não dar certo da primeira vez, mas você vai ter que tentar, senão serás um eterno dependente da Palavra.
E o Medo assim fez. Quando ouviu a Palavra se aproximar, não se intimidou. Escutou tudo calado, mas desta vez sem o medo que sentia antes. Assim, mais preparado para enfrentar a Palavra Gigante, ouviu o que ela tinha a dizer. Analisou com muita calma, palavra por palavra e concluiu que o que tornava a Palavra tão poderosa, não era o excesso do poder, mas a falta de amor. A agressividade toda era a forma que a Palavra encontrava para esconder a tristeza que havia em seu coração. O Medo descobriu que poderia se aproximar da Palavra usando a arma que ele conhecia melhor: A Humildade!



                             Débora Benvenuti

A Sombra e a Solidão






No mais alto da montanha, a Solidão foi se isolar. Precisava ficar só, apesar de que a maior parte do tempo, estar só era o que mais fazia. E por ser Solidão, sabia que precisava meditar e não havia melhor lugar do que aquela majestosa montanha, que se erguia altiva, quase até atingir as nuvens. Ali havia uma quietude indescritível. Nenhum som se ouvia, a não ser o revoar de alguma ave prenunciando o findar do dia. A Solidão escutou o silêncio por um longo tempo, até que em determinado momento, observou uma sombra ao seu lado. Pensou que talvez fosse a sua imaginação, mas naquele momento, a Sombra fez um movimento, demonstrando que estivera ali há um bom tempo. Na verdade, desde que a Solidão chegara. Esta observou a presença da Sombra e se perguntou a quem ela pertencia. A Sombra mais do que depressa, respondeu. Eu pertenço à você!
- Mas como assim, perguntou a Solidão. Eu estava só e somente agora percebi a tua presença.
- Pois sou como você. Sou a sombra que ninguém percebe, apesar de estar em todos os lugares.
- Mas eu sou diferente. As pessoas sempre percebem a minha presença e quando chego, todas se afastam.
- Minha sombra muitas vezes é benéfica. Muitos me procuram, quando o sol está muito quente e mesmo assim não deixo de ser solitária.
- Mas contigo é diferente. Ninguém se afasta. Pelo contrário, és muito procurada.
- Isso não faz com que eu seja menos solitária. Quando a noite chega, eu acompanho todos pelo caminho e então percebo que não faço diferença nenhuma.
A Solidão deu um profundo suspiro e ficou resignada com a sua triste condição. Mas ficou um pouco mais tranquila quando constatou  que até a Sombra sofria de solidão.


Débora Benvenuti

domingo, 14 de outubro de 2018

O Amor, o Coração e o Perdão




Um Coração muito magoado,
se sentia muito amargurado.
Precisava falar com o Amor
e ser por ele perdoado.
Sentia-se muito cansado pelo muito que vivera.
O mundo todo percorrera,
atrás desse amor sem fronteiras.
Sabia que precisava urgentemente,
se desfazer dessa mágoa,
que consigo carregava.
Mas antes de falar com o Amor
e pedir que fosse perdoado,
precisava muito descobrir os segredos
que dentro dele se escondiam e
que ele próprio, desconhecia.
Então decidiu viajar,
fazer uma introspectiva do que fora a sua vida.
Saiu cedo, mal havia clareado o dia.
Levou consigo apenas a sua sabedoria,
que era tudo o que ele adquirira,
nesses anos todos de agonia.
Andou muito e pelos caminhos pelos quais seguia,
Ia encontrando as respostas que tanto queria.
Sentiu saudades da felicidade que sentira um dia,
e isso o fez ficar mais angustiado.
Numa curva do caminho, encontrou o Amor, desesperado.
Sentia falta do Coração,
Onde estivera hospedado.
Chorava muito e se sentia abandonado
e  vendo o Amor vir em sua direção,
se sentiu mais animado.
Mas não teve coragem de falar ao Coração,
mesmo sabendo que dentro dele havia muita compreensão.
Os dois se encontraram lado a lado,
mas nenhum deles sabia por onde começar o diálogo,
que não mais poderia ser adiado.
Cada um sabia o que deveriam falar.
Os erros que cometeram,
não poderiam ignorar.
O Perdão que por ali passava, resolveu ajudar:
Soprou baixinho, palavras de carinho
e o Amor se pôs a escutar.
Sentiu-se envolvido e comovido.
Estendeu os braços e tocou suavemente o Coração.
E assim, enlaçados docemente,
nem perceberam a presença do Perdão,
que se retirou lentamente
e foi habitar outros corações...



Débora Benvenuti





sábado, 23 de junho de 2018

O Acendedor e o Candeeiro







O Acendedor de Corações
acendeu tantos corações,
até que o fogo do seu candeeiro apagou
e com o vento como açoite,
voltou para o seu leito
e dormiu como nunca antes
havia feito,
nos lençóis amassados e desfeitos...
Sonhou tantos sonhos ,
mas nenhum deles era perfeito.
Não entendia mais o que acontecia,
só sabia que nada mais sentia.
O coração adormecido,
virou pedra de gelo
e não mais se aquecia.
A neve em flocos caia
e apagava as pegadas
do último coração em que habitara.
Sentia o frio cortante
tal qual lâminas de aço,
a  perfurar-lhe a alma,
espalhando os estilhaços.
E sem ter como acender o candeeiro,
soprou nas palhas do celeiro,
e com o frio que fazia,
o fogo não mais acendia 
e o Coração 
não mais se aquecia.



Débora Benvenuti

domingo, 18 de março de 2018

A Razão, a Explicação e a Versão





A Razão acreditava que estava sempre certa e assim sendo, não queria ouvir a Explicação, que estava sempre tentando mudar o curso dos acontecimentos. Para a Versão, esta situação sempre gerava muitas controvérsias. Havia sempre os dois lados da moeda. Não era assim tão simples achar que a Razão sempre tinha razão, mesmo que tivesse. Havia várias versões para o mesmo pressuposto, o que gerava muitas vezes, indignação. Mas afinal, de quem era a Razão? Quem poderia estar acima dos fatos e acreditar que não houvesse outras versões, muitas vezes defendidas com entusiasmo, algumas vezes exacerbadas, mas mesmo assim, com muitas interrogações? A Explicação se esmerava em contar os fatos com a maior credibilidade. Eram detalhes minuciosos, que ela se esmerava em apresentar, numa seqüencia de fatos que deixava qualquer um na dúvida mais cruel que se possa imaginar. E havia outras versões que não deixavam dúvidas ou margem para especulações. Então, como saber de quem era a Razão? Nem mesmo a Razão era capaz de acreditar na própria razão, com tantas versões de um mesmo fato. Havia Razões e Razões, que a própria Razão desconhecia.


Débora Benvenuti

O Sussurro do Vento



Há um lugar longínquo onde apenas o vento assobia canções ao cair da tarde. Para ouvi-lo é preciso se despir de qualquer outro pensamento e apenas se entregar à magia daquele momento. São canções de amor que só o vento traz de outros lugares por onde passa. E não precisa entender tudo o que ele sussurra, pois o vento embala suavemente essas canções e apenas os sentimentos são envolvidos nessa suave sintonia. Como as notas delicadas de uma sinfonia que nunca antes foi ouvida. Ao longe,ouve-se os sons do cair da tarde, que se misturam delicadamente aquele momento de suave encantamento. É um momento delicado, onde o ocaso vai aos pouco delineando as sombras da noite, que se aproxima devagar, como se também quisesse fazer parte da melodia do findar do dia. A alma se aquieta e os sons vão sumindo até que nada mais se pode ouvir.



Débora Benvenuti

terça-feira, 13 de junho de 2017

O Espectro



O Pensamento estava confuso com todos os acontecimentos que vinham se acumulando em sua mente e para os quais não havia solução aparente. Pensar se tornara algo muito difícil e doloroso, pois havia um turbilhão de decisões importantes a serem tomadas e isso requeria muito espaço no já tumultuado pensamento. As ideias iam se convertendo em ações, dominadas pelo Espectro da Morte, que se agigantava e possuía cada milímetro do Pensamento, não deixando margem para outra decisão que não fosse ela própria. O Pensamento estava petrificado pelo medo e ao mesmo tempo, permanecia no mesmo lugar, sem coragem de dar um passo sequer em direção aquele pensamento obscuro que aumentava com o passar das horas. E o Espectro ficava ali, a espera de que o Pensamento seguisse os seus passos e o conduzisse para o derradeiro final, tão obscuro quanto ele próprio. Não havia como escapar daquela cilada e apesar dos esforços que o Pensamento fazia, para não se deixar seduzir pelo Espectro, a vontade ia enfraquecendo o Pensamento e ele cada vez ficava mais fascinado pela ideia de sucumbir aquele chamado. Soluçou como uma criança, perdida no emaranhado que se tornara aquele momento de decisão extrema, sem que nenhum motivo aparente fosse manifestado em outras ocasiões. O Espectro permaneceu vigiando o Pensamento, até que em determinado momento, ele pareceu raciocinar e disse não, aquele chamado que vinha das profundezas daquela alma inquieta. Por alguns segundos, o Pensamento permaneceu confuso, diante daquela ideia macabra, que aos poucos foi desaparecendo e sumiu por completo, tão sorrateiramente como havia surgido...




Débora Benvenuti

quinta-feira, 20 de abril de 2017

O Poema e o Psiquiatra




                              Resultado de imagem para psiquiatra  
Os amigos do Poema já haviam percebido que ele não andava se sentindo muito bem. Sempre que alguém lhe perguntava o que  estava  acontecendo, ele respondia - Eu não sei de nada. E não falava nada. Preocupados, os amigos então lhe disseram que procurasse um psiquiatra que sabia de tudo. Então o Poema agendou uma consulta e no dia  marcado, lá estava ele, esperando para ser atendido. Aguardou alguns instantes na sala de espera e logo foi conduzido à sala do psiquiatra. O Poema se acomodou diante do psiquiatra e este procurou deixar o Poema o mais confortável possível. Começou perguntando como o Poema se chamava e ele rapidamente respondeu:
- Eu não sei de nada. Então o psiquiatra foi logo dizendo:
- Eu sei de tudo!
- Sabe mesmo? perguntou o Poema, admirado com tanta sabedoria.
- Sim, respondeu o psiquiatra. Eu sei de tudo.
- Como pode saber de tudo, se eu não sei de nada?
- Bom, por isso o senhor me procurou. Para saber de tudo. Mas vamos começar pelo começo:
- Por que o senhor me procurou? Como posso lhe ajudar?
- Eu não sei de nada, respondeu o Poema. Quem sabe tudo é o senhor. E se sabe tudo, por que quer saber o que eu sei?
- Para que possamos encontrar o que o senhor procura.
- Mas eu não perdi nada, doutor. Eu não sei de nada, nem vi nada. O senhor viu alguma coisa?
- Eu sei de tudo. Mas tudo mesmo!
- E o que o senhor sabe? retrucou o Poema.
- Eu sei de tudo!
- Mas se o senhor sabe de tudo, porque não me conta o que o senhor sabe?
- Isso não posso lhe contar. Um psiquiatra não pode sair por ai contando tudo o que sabe. É contra a ética profissional.
-Doutor, se o senhor sabe tudo e não quer me contar, eu não tenho mais nada a fazer aqui. E saiu repetindo o que já havia dito: Eu não sei de nada...



Débora Benvenuti